Dezoito anos depois, Isabel não cresceu muito. Já anda
sozinha, embora não em zonas de piso irregular ou com degraus. Diminuiu a
agressividade e consegue completar jogos de colocação de peças. Tem um
fascínio pelo tiquetaque dos relógios.
Continua com problemas de estômago que lhe
causam grande debilidade pois a obrigam a comer pouco e a ter uma alimentação
muito
cuidada.
Segundo os relatórios do colégio onde esteve durante 15
anos, Isabel era afectiva e simultaneamente agressiva na tentativa de estabelecer
relações. Não falava, batia os braços, mordia-se, arrancava cabelos que
comia e tinha problemas de cicatrização por arrancar crostas das feridas.
Foi internada na Casa do Bom Samaritano,
onde, segundo a irmã Maria José, chegou com «uma grande anemia e muitos
parasitas, não se controlava e não conseguia estar sentada cinco minutos,
apesar de não se equilibrar (...) não possuía qualquer concentração, comia
cabelos, papel e maçarocas de milho em grão». Por outro lado, «agarrava-se
às pessoas e, se não tinha resposta, beliscava-as, utilizando a
agressividade para chamar a atenção. Com a mesma intenção, despia-se da
cinta para cima».
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Isabel Quaresma 1998 |
Segundo a psicóloga Isabel Costa, da Casa do Bom
Samaritano, Isabel teria, em 1998, uma idade mental de dois anos. «Tem um
nível de compreensão simples e responde a pequenas ordens, do género de se
pedir alguma coisa e ela ir buscar. Mas, se se pedirem duas, ela só traz uma, porque só capta uma ordem de cada
vez». Por outro lado, refere que «a jovem não fala mas tem
linguagem receptiva, se se lhe falar em termos simples e sem grandes
sequências». Isabel Costa salienta ainda a
evolução, nos últimos três anos, da sua
capacidade de atenção e concentração. «Com a colaboração de alguém, já
consegue ter uma actividade durante dez minutos seguidos e, no que respeita
a socialização, já sabe estar em grupo, é participativa e tem iniciativa
própria por necessidade de contacto físico.»
Na Casa do Bom Samaritano, Isabel desenvolve jogos
simples e grafismos. Aprendeu a pegar num lápis e a riscar. Separa as
cores e encaixa peças, frequentando o atelier psico-educativo.
E Isabel Costa acrescenta: «Percebe bem a expressão
facial dos outros e sabe, pelo nosso olhar, se estamos contentes ou tristes
com as suas atitudes.» Aliás, «com alguma malandrice», até reage aos nossos
comportamentos.
Tudo leva a crer que é feliz.
Texto com base na reportagem sobre a "Menina
Galinha - 18 anos depois", publicada no Diário de Notícias,
em 14
Novembro de 1998
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