Notas sobre o Mobiliário escolar em portugal no século XX

Década de 30 Década de 40 Década de 50
Década de 60 Década de 70 Década de 90
Mobiliário de Laboratório Bibliografia 

 

Década de 30

O  escultor Tavela de Sousa, da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário, desenvolve trabalho regular de estudo e projecto para todo o mobiliário de liceus e escolas técnicas. 

O Dr. Almiro do Vale, médico na região de Tondela e membro do Instituto da Universidade de Coimbra, publica um estudo sobre o assunto, resumindo as deficiências que observara no mobiliário então existente: 

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"A  maioria das nossa escolas tem um modelo e tipo únicos de carteira que é nocivo a qualquer aluno"

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"Nas poucas escolas em que existem dois tipos e modelos de carteiras quaisquer destes é também impróprio ao aluno, visto não se harmonizar com o seu desenvolvimento físico nem com as exigências do ensino"

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"Quer o modelo antigo quer o moderno são considerados por nós como impróprios e nocivos ao desenvolvimento somático do aluno, visto a arquitectura deste mobiliário se não coadunar com a sua morfologia corpórea."

 

Década de 40

A 21 de Outubro de 1944, o Dr. Daniel Sttau Monteiro recebeu um relatório que incluía o resultado de observações e medições feitas a 32381 alunos de escolas do primeiro ciclo da cidade de Lisboa. A principal conclusão do relatório, consiste na recomendação de se optar por modelos de carteiras extensíveis, obedecendo a um determinado conjunto de dimensões para cada grupo etário.

Com autorização do Ministro Frederico Ulrich, as propostas do relatório foram adoptada e adquiriu-se o mobiliário para três escolas.

Em Junho de 1946, foram transmitidas à Repartição de Estudos de Edifícios, as indicações do médico escolar encarregado de apreciar os primeiros modelos de carteiras para escolas do primeiro ciclo, executadas segundo as indicações da Direcção Geral de Desporto e Saúde Escolar.

 

Década de 50

Desenvolvem-se na região de Lisboa empresas especializadas em equipamento escolar que fabricam carteiras em que a madeira (macacaúba, bissilon, mogno africano) se reduzia aos tampos  montados em estruturas metálicas. Foi esta linha que a Câmara Municipal de Lisboa adquiriu para as escolas do primeiro ciclo que construiu nos anos cinquenta.

 

Década de 60

 

A carteira rígida, de dois lugares, alinhada com outras vinte e três carteiras semelhantes, continuaria a ser a peça mais importante das salas do ensino primário oficial, até meados da década de 1960.

 

 

 

 

 

Porém, nessa época, o mobiliário para o ensino sofria, noutros países, uma grande evolução. O Eng.  Macedo Gonçalves, que  fizera um estágioem Inglaterra (1961) sobre Construções Escolares para o primeiro ciclo do ensino básico, verificava que a realidade nas escolas portuguesas ficava a grande distância das condições comuns em Inglaterra. 

Em 1963, apresentou ao Ministro das Obras Públicas um estudo muito completo de uma nova linha de mobiliário escolar, propondo a construção dum protótipo que deveria ser testado, durante algum tempo,  para se  observar o seu comportamento funcional.

A construao experimental do mobiliário para o primeiro ciclo do ensino básico, baseava-se nos seguintes princípios:

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por muito bem estudadas que sejam as dimensões do banco e da mesa, é sempre muito difícil ligá-los entre si por forma que se ajustem perfeitamente às medidas do aluno. Considera-se preferível ser este ou o professor a realizar o ajustamento;

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o mobiliário construído por cadeiras e mesas separadas é muito mais fácil de arrumar, especialmente quando é desenhado tendo em vista essa possibilidade. Torna-se, deste modo, viável criar na sala de aula, espaços livres onde pode organizar jogos, danças ou agrupamentos corais;

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permite este tipo de mobiliário reunir, de formas variadas, diversas mesas, agrupando os alunos de modo mais destacado para a atenção do professor; o que é de grande utilidade quando numa sala de aula se reúnem várias classes;

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esta disposição tira ao ambiente da sala o aspecto rígido e um tanto monótono que a caracteriza;

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torna se mais fácil a limpeza da sala.

O estudo baseava-se na coordenação da postura dos alunos, durante as aulas, e em dados antropométricos de crianças portuguesas.

Considerava-se indicativo de boa postura a combinação de seis pontos:

1. - Pés bem assentes no pavimento;

2. - Ausência de pressão entre o assento e a face inferior da coxa;

3. - Folga entre a perna e a face inferior da mesa;

4. - Cotovelo ao nível do tampo da mesa ligeiramente abaixo;

5. - Costas em contacto com o espaldar da cadeira na região lombar, abaixo das espáduas;

6. - Folga entre a face posterior da perna e o topo do assento.

Quanto ao dimensionamento das peças foi seguido um critério de escalonamento baseado na estatura dos alunos: quatro escalões, abrangendo crianças dos 7 aos 12 anos.

O dimensionamento da mesa - secretária em uso, foi estabelecido tomando como referência a estatura média de indivíduos do sexo masculino.

A previsão de vinte mesas duplas e quarenta cadeiras para os alunos duma sala de aula era explicada do modo seguinte pelo autor do trabalho:

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O número de lugares da solução que se propõe é justificado pelo conhecimento que temos do número de alunos com que, normalmente, funcionam as salas de aula;

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Na realidade, o Ministério da Educação Nacional considera como razão bastante para a criação de um lugar de professor a existência de 35 crianças em idade escolar;

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Estamos convencidos que o número de lugares que vem sendo considerado (48) foi estabelecido em período bem diferente do actual, em que uma carência aflitiva de salas de aula conduzia, com frequência, a uma superlotação das mesmas.

A Comissão para Aquisição de Mobiliário deu parecer favorável a estes estudos de mobiliário, considerando-os optimamente elaborados. A 4 de Março de 1964 o Ministro Arantes e Oliveira homologou o Parecer da Comissão.

Depois de observado o comportamento do protótipo, o novo mobiliário passou a ser entregue nas escolas do primeiro ciclo do ensino básico dos tipo Rural e Urbano que iam sendo construídas. A distribuição da sala continuaria a ser a tradicional.
 

 

Década de 70

Impoe-se uma nova pedagogia que reconhece aos alunos o direito ao trabalho de grupo e à mobilidade no espaço da aula. As salas do tipo Rural e Urbano projectadas no início da década de 1970 eram já uma resposta à nova dinâmica do ensino do primeiro ciclo do ensino básico, tornaram-se evidentes as vantagens da utilização do mobiliário estudado alguns anos antes.

 

Década de 90

As mesas utilizadas em salas de aula têm então as seguintes características de concepção:

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A concepção da estrutura deve permitir soluções tão leves quanto possível e com adequada economia de execução, sem prejuízo das características de resistência e estabilidade;

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A estrutura deve ser rígida, por forma a assegurar a estabilidade do conjunto e a permitir boas condições de utilização do plano de trabalho, e não deve interferir com a posição das pernas dos utentes;

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A estrutura não deve exceder os limites da projecção horizontal do tampo e deve ter lateralmente um dispositivo para suspensão de pastas;

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Os pontos de apoio no solo devem ser providos de protecções anti-ruído e antidesgaste, não desmontáveis por acção do uso dos utilizadores e com fixação por rebite ou processo equivalente;

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As ligações do tampo à estrutura não devem ser desmontáveis por acção do uso ou dos utilizadores;

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O tampo deve ter encabeçamento de protecção.

A cadeira a utilizar em espaços de ensino tem as seguintes características actualmente:

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A concepção da estrutura deve permitir soluções tão leves quanto possível, sem prejuízo das condições de resistência e estabilidade;

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As extremidade visíveis da estrutura devem ser fechadas por um sistema não desmontável e de acabamento não contundente;

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Os pontos de apoio no solo devem ter terminais anti-ruído e antidesgaste, não desmontáveis por acção do uso ou dos utilizadores;

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O bordo dianteiro do assento deve estar convenientemente apoiado na estrutura;

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O assento não deve apresentar modelações excessivas que condicionem a posição dos utilizadores, podendo apresentar contudo ligeira curvatura longitudinal e/ou transversal;

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O assento e o encosto devem apresentar arestas arredondadas em todo o perímetro.

Mobiliário de Laboratório

As mesas destinadas a ensaios laboratoriais que se utilizam em laboratórios de Física e de Química em escolas secundárias têm actualmente as seguintes características de concepção:

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A estrutura deve ser rígida, por forma a assegurar a estabilidade do conjunto e a permitir boas condições de utilização do plano de trabalho, e não deve interferir com a posição das pernas dos utentes;

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A estrutura não deve exceder os limites da projecção horizontal do tampo;

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Os pontos de apoio no solo devem ter terminais anti-ruído e antidesgaste, não desmontáveis por acção do uso ou dos utilizadores, com sistema de nivelamento;

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O tampo deve ter encabeçamento de protecção.

Os bancos reguláveis são destinados a situações de trabalho em laboratórios de Física e de Química e actualmente têm as seguintes características de concepção:

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A concepção da estrutura deve permitir soluções tão leves quanto possível, sem prejuízo das condições de resistência e de estabilidade;

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As extremidades visíveis da estrutura devem ser fechadas por um sistema não contundente e não desmontável;

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A estrutura deve ter cinco pontos de apoio no solo, que devem ser providos de protecções anti-ruído e antidesgaste, não desmontáveis por acção do uso ou dos utilizadores;

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A estrutura deve possibilitar o apoio dos pés do utilizador;

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O assento deve ser regulável em altura, com mecanismo de fácil manejo, resistente à utilização intensiva e não desmontável por acção do uso ou dos utilizadores, preferencialmente com sistema de fuso roscado;

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Deve ser garantida a estabilidade do assento, qualquer que seja a altura de utilização;

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O assento deve ter forma circular, com arestas arredondadas em todo o perímetro;

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As ligações do assento à estrutura não devem ser desmontáveis por acção do uso dos utilizadores.

Bibliografia

 
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Beja, Filomena, Serra, Júlia, Machás, Stella e Saldanha, Isabel, Muitos Anos de Escola, Volume II, Edifícios para o Ensino Infantil e Ensino Primário, Anos 40-70, (1996), Lisboa, Ministério da Educação, Direcção Geral de Recursos Educativos

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Alves, Luís Alberto Marques (1990), O Passado da Escola  o Futuro do Ensino, Porto, Edições ASA

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Martins, João Horta e Fernandes, Luís Fonseca (1992), Ensino Básico 2.º e 3.º Ciclos - Ensino Secundário: condições técnicas gerais, Lisboa, Direcção Geral da Administração Educativa

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Martins, João Horta e Fernandes, Luís Fonseca (1996), Ensino Básico - Ensino Secundário: condições técnicas gerais, Lisboa, Direcção Geral