Viana do castelo

  • Liceu Gonçalo Velho

Designações:

Nome de origem: "Liceu Nacional de Viana do Castelo"

Em 1918: "Liceu Nacional Gonçalo Velho" 

Em 1919: "Liceu Nacional-Central de Gonçalo Velho"

Em 1924: "Liceu Nacional de Gonçalo Velho"

Em 1925: "Liceu Central de Gonçalo Velho"

Em 1928: "Liceu Nacional de Gonçalo Velho"

Em 1937: " Liceu Provincial de Gonçalo Velho"

Em   1947: "Liceu Nacional de Viana do Castelo"

Em 1957: "Liceu Central de Viana do Castelo"

Género:

No início: Liceu Masculino

Em 1886: Primeira aluna matriculada

Em 1901: Uma aluna matricula

A   partir de 1906: Liceu passou a ser misto

Criação:

   Em meados do século XIX, Viana do Castelo era, a povoação mais importante do Alto Minho.Tornou-se cidade em 1848. Aí desenvolveram-se actividades comerciais tais como construção e reparação navais e de pesca. A sua população era constituída por trabalhadores artesanais, pescadores. Tinha também técnicos especializados e empregados comerciais. Como era uma capital de distrito, havia muitos funcionários ligados à administração e à justiça. O grupo social dominante era constituído por uma burguesia ligada à actividade comercial.

    Por volta de 1850 foi encontrado em funcionamento cadeiras de Gramática Portuguesa e Latina em Viana do Castelo, Arcos de Valdevez, Caminha, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Valença. Para além destas cadeiras de ensino público, existiam escolas privadas que se dedicavam ao ensino secundário.

    A criação de um liceu em Viana do Castelo foi prevista pelo Decreto de 17 de Novembro de 1836 e tamb´m no Decretode 20 de Setembro de 1844, já que neles se preconizava a instalação de liceus em todas as capitais de distrito.

    No entanto, só em 1853 deu entrada em funcionamento de um liceu neste distrito.

  • O primeiro acto oficial, foi a nomeação do professor das cadeiras de Aritmética e Geometria com aplicação às Artes, e pimeiras noções de Álgebra e de Filosofia Racional e Moral, e Princípios de Direito Natural.

  • O primeiro Reitor deste Liceu foi Albano José da Cruz e Sousa, formado em Medicina.(Livros de correspondência expedida pelo Governo Civil). Era o único a exercer profissionalmente a cidade e, desde 1851, médico do Partido Municipal (cf. Actas das Sessões da Câmara Municipal,30 de Agosto de 1851).

  • No mesmo ano de 1853, a 1 de Dezembro, tomou posse o professor das cadeiras de GramáticaPortuguesa e Latina(cf. ofício de 14 de Janeiro de 1854).

  • As aulas começaram nesse ano funcionando apenas as cadeiras mencionadas acima.

  • O liceu começou numa única sala do antigo Convento de S. Domingos: "Quando em 1853, foram providas as primeiras cadeiras deste liceu, não havia ainda casa ou edifício apropriado para as mesmas(...)"(Carta do reitor em ofício para o Governador Civil, 2 de Dezembro de 1958).

  • A 20 de Maio de 1854 toma posse o professor das cadeiras de Línguas Francesa e Inglesa.

  • No fim do primeiro ano lectivo de funcionamento, eram leccionadas 4 cadeiras previstas pela reforma de 1844, para além das de Língua Francesa e Inglesa.

  • Este liceu apresentava nesta altura uma limitação. Não havia cadeiras de Oratória, Poética e Literatura Clássica e de História, Cronologia e Geografia o que fazia com que o curso não estivesse completo, fazendo com que muitos preferissem o liceu de Braga.

  • Em 1856, o ministério do Reino abre concurso para a colocação de um professor para as duas cadeiras que faltavam. Quem ocupou o lugar foi Bento Álvares Pereira de Moura, que  apenas começou a leccionar no inicio do ano lectivo de 1857/58.

  • A aritmética só funcionou no ano lectivo de 1854/55, pois nos anos em que devia alternar com Filosofia nenhum aluno se matriculou.

  • Desde 1853, e até ao fim do século XIX, o número de alunos foi sempre pequeno, tendo como limite inferior 37 alunos em 1878/79 e limite superior de 138 alunos em 1869/70. Na maioria dos anos nem sequer chegou à centena.

 

Localização:

   De inicio: Em instalações provisórias

    Em 1853: Uma sala no Convento São Domingos

    Em 1855: Aluguer parcial do Palacete Sotto-Maior

    Em 1911: Casa dos Quesados

    Edíficio Construído para o Liceu

    Em 1946: Edificio Implantado na Quinta dos Quesados

 

Instalações:

   De inicio, e tal como já foi referido, o liceu tinha apenas uma sala no convento S. Domingos. O ensino da primeira e segunda cadeiras tinha lugar na sala d aulas do liceu e o ensino da terceira e quarta cadeiras tinha lugar em casa do respectivo professor. Esta decisão foi tomada com base no facto de as aulas só poderem ser dadas com luz natural, devido aos custos que acarretava a iluminação artificial, não permitindo a existência de numa única sala a ocorrência simultânea de duas ou mais aulas.

    A 15 de Janeiro de 1855 as aulas do liceu passaram para um palacete que pertencia a Gonçalo Lobo Pereira Caldas, passando em 1860 para a posse de Gonçalo da Cunha Sotto-Maior. Este edíficio apresentou graves problemas, pois este estava virado para uma rua com muito trânsito o que fazia com que os alunos se distraíssem. O liceu manteve-se neste edifício até 1911, mesmo com todos os incovenientes e agravado estado de degradação.

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Edificio anexo ao Convento de S. Domingos (instalações do liceu entre 1853 e 1855)
(Foto de Rodrigo Azevedo, 1999)

    Em 1877, foram feitas obras, possibilitando ao liceu instalar uma biblioteca. Nos anos seguintes, foram sempre feitas obras de restauração do edificio permitindo aos alunos ocupar mais salas. Por volta do ano 1900, algumas partes do edifício desabaram tornando-se assim numperigo eminente para a vida e saúde de professores e alunos.

    Uma vez que todas as tentativas de mudar de instalações foram infrutíferas, o reitor do Liceu, com o objectivo de criar a disciplina de Ginástica, alugou para esse fim, uma casa, junto ao liceu e pertencente a Miguel Vaz de Almada.

    Com a implantção da República, o Conselho Escolar vai aproveitar a oportunidade de o Estado passar a deter novos edifícios, até aí pertencentes a ordens religiosas para tentar obter instalações para o liceu. Foi proposto então em reunião do Conselho Escolar, que este liceu fosse transferido do palacete Sotto-Maior para a casa onde estavam os jesuítas, que pela expulsão destes, se encontrava em posse do Estado.

    A transferência do liceu para a Casa dos Quesados é feita rapidamente.

    As aulas no novo edifício tiveram inicio a 16 de Outubro de 1911: "Optimamente situado, no extremo nascente da cidade, em terreno cheio de sol e de bom ar- o liceu Nacional está em excelentes condições higiénicas" (José de Jesus Araújo, ofício de 16 de Setembro de 1912).

    Em 1914 surge pela primeira vez, uma referência negativa a insuficiências do edifício, nomeadamente no ensino da disciplina de Ginástica, pois tinha para esse fim uma sala imprópria. Nesse mesmo ano foram feitas obras para o melhoramento da biblioteca e para instalação de novas salas de aula.

    A progressiva subida do númeoro de alunos a partir de 1915/16 vem mostrar que o liceu não tinha espaço para novas turmas. Tomam-se assim medidas de emergência, ao ponto de,o reitor Manuel Pires Gil, ter sacrificado o seu gabinete da reitoria para que nessa funcionassem aulas.

    Em 1919, começou-se a considerar que a Casa dos Quesados já não era conveniente para o funcionamento do liceu. A partir deste momento, iniciou-se um momento que cuminou 27anos mais tarde. Com o passar dos anos, a degradação do edifício liceal foi aumentando.

    Em 1934, o Governo Civil informa o reitor que tinha enviado uma representação pedindo a construção de um novo edifício onde pudesse funcionar condignamente o liceu. Em 1936, a Junta de Construções para o Ensino Técnico e Secundário comunicou ao reitor que se ia iniciar a construção de um novo edifício para o liceu. Esta obra demorou 10 anos. Durante esse tempo, a Casa dos Quesados foi sujeta a pequenas obras de manutenção.

    O novo edifício foi implantado na quinta pertencente à Casa dos Quesados. Ao fim de dez anos a construção estava pronta e o mobiliàrio entretanto adquirido, colocado no sítio. O liceu não pôde, no entanto transferir-se de imediato, pois ainda não havia pavimentaçã nos arruamentos circundantese canalização de àgua e saneamento.

    O liceu começou a funcionar no novo edifício a 16 de Outubro de 1946.

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Edificio construído para o liceu (implantado na Quinta dos Quesados)
Bilhete postal do anos 70

    Este novo edíficio (com lotação para um máximo de 9 turmas), tinha dois pisos onde estavam colocadas as aulas gerais, os laboratórios, um anfiteatro, a biblioteca, o museu, a reitoria, os gabinetes e a secretaria. Tinha dois recreios cobertos, um para cada sexo. Na parte traseira, o edifício tinha a cantina, o refeitório, a aula de Canto Coral e uma sala de alunos. No final deste prolongamento, estava o ginásio, com as respectivas instalações e a sala da Associação Escolar. Lateralmente foram construidos vários campos de jogos.

 

Categoria:

   Este liceu foi encarado desde sempre como um liceu de 2ª classe. Assim, passando pelas várias reformas, ou não tinha professores necessários para leccionar todas as disciplinas ou não abrangia o curso liceal completo,obrigando os alunos que quisessem completar o ensino liceal a terem que se deslocar para os liceus de Braga, Porto ou Coimbra.

    Com a implantação da República, a situação vai alterar-se. Em 1911, é aprovada numa reunião da Câmara Municipal de Viana do Castelo que se tente elevar o liceu desta cidade a Liceu central. Apesar dos esforços e campanhas, o liceu apenas subiu de categoria  pelo Decreto nº6022 de 12 de Agosto de 1919.

    Apesar de tudo, a Junta Geral manteve sempre uma certa dúvida quanto ao facto da necessidade de Viana do Castelo ter um Liceu central. O liceu voltou então a ser apenas "nacional" por recusa da Junta Geral entre Fevereiro e Abril d 1920 e todo o ano lectivo de 1924/25. Em 21 de Setembro de 1928, pelo decreto nº15971, voltou o liceu à categoria de "nacional" e a ter apenas os dois primeiros ciclos.

    Em 1957, pelo decreto nº41280, de 20 de Setembro, o liceu voltou a ter o 3ºciclo.

    Ao longo da primeira década da República, os vários governos foram dando aos liceus nomes de personalidades históricas consideradas relevantes. A vez do liceu de Viana do Castelo chegou em 1918 através do decreto nº5038 assinado por Sidónio Pais. Segund o decreto: "Cumprindo ao Governo da República Portuguesa glorificar as figuras representativas do povo português como elementos educativos; Tendo em vista a representação enviada à Secretaria de Estado da Instrução Pública pela Direcção do Instituto Histórico do Minho; Considerando que uma das melhores formas de homenagear a memória do notável português Gonçalo Velho é a de dar o seu nome a um instituto de ensino(...), que o Liceu Nacional de Viana do Castelo passe a denominar-se de Liceu de Gonçalo Velho"(Diário do Governo, de 3 de Dezembro de 1918).

 

  Traços liceais:

   A frequência liceal continuou a ser pequena ao ongo do século XX. Só ultrapassou os 200 alunos em 1920/21, os 300 em 1927/28 e os 400 a partir de 1956/57.

    É de referir que este liceu tinha sido até então exclusivamente masculino e em 1886, matricula-se a primeira aluna, que esteve no liceu durante dois anos. Só quinze anos mais tarde se volta a matricular outra aluna. Até 1906, o liceu volta a ser exclusivamente masculino, matriculando-se então três alunas nesse ano.

    A partir desse ano aumento o número de raparigas a frequentar os liceus, cuja percentagem atingiu os 40% no final de 1930. Até 1930 as turmas passam a ser então mistas e só a partir dessa altura começa a haver algumas turmas exclusivamente masculinas ou femininas.

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    Com a entrada em funcionamento do novo edifício, os espaços de lazer e as áreas decirculação dos rapazes e das raparigas passaram a estar bem delimitadas. Controlo do comportamento dos alunos torna-se muito mais apertado durante o Estado Novo: a forma de vestir, a circulação dentro dos liceus, entre outroas regras.

    Desde o seu ínicio, nasceu no Liceu de Viana do Castelo, a ideia de que se estava na presença de uma academia estudantil. O traje estudantil, os órgãos estudantis, os grupos culturais, como a Tuna, a Filarmónica ou o grupo de Teatro, e algum comportamento boémio, fazem em tudo lembrar o que se passava naquela altura na Universidade de Coimbra. Havia mesmo uma grande confraternização entre os estudantes liceais e os estudantes universitários.

    Nos liceus, tal como nas universidades, havia praxe para marcar a entrada dos novos alunos.

    Neste liceu, a maior festa, acontecia no 1º de Dezembro. Esta era organizada pela direcção académica que tinha como parte central um sarau teatral e musical que decorria no Teatro Sá de Miranda. É ainda de referir que, até 1930 a direcção liceal não se intrometeu na organização desta festa, à qua assistia.

    A partir de 1930, este sarau passou a ser feito na Associação Escolar, que tinha sido contruída sob direcção do reitor. Em 1937, foi construída a Mocidade Portuguesa no liceu, tendo assim, a organização do espectáculo passado para o controlo desta organização.

    O liceu teve sempre poucos professores devido ao limitado número de alunos. Só na década de 1940 é que alcançou os 20 docentes. é de referir ainda que, até 1930, foram todos professores do sexo masculino, sendo nesse ano admitida a primeira professora do sexo feminino, Emília Fernandes Fão, professora provisória de Canto Coral.

    Muitos destes professores exerceram outras actividades, tais como medicina, advocacia,entre outros. Vários tiveram uma actividade política activa e desempenharam cargos nos órgãos de poder locais ou nacionais. Todos foram funcionários públicos.

    A chegada das primeiras alunas e das primeiras professoras, 30 anos antes,veio alterar o tipo de relacionamento existente no liceu. O mundo masculino da docência secundária em Viana do Castelo passou a dar lugar a outro mundo onde as professoras tinham um papel de igualdade, apesar de muitas ainda não poderem ser efectivas.

 

Conclusão:

    Este liceu funcionou durante 124 anos e hoje funciona através da Escola Secundária de Santa Maria Maior. Foi através do enraizamento do liceu, que esta escola ficou ligada à cidade, devido ao curso liceal, ao que oferecia e ao facto de atrair jovens de todo o Alto Minho. Foi local de formação de funcionários públicos, de profissionais liberais, de Padres, de oficiais das Forças Armadas, tal como muitos outros liceus.

    No entanto, este liceu tinha algo exclusivamente seu. Este exclusivo era a memória dos seus estudantes, dos professores que lá leccionaram e dos funcionários que lá trabalharam. Estas memórias permitiram ter hoje muita informação sobre a evolução deste liceu, a nível de professores e da própria evolução das instalações.

 

 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt