A máquina aritmética de Leibniz
As possibilidades da Pascalina
e de todas as suas sucessoras eram muito limitadas. Embora, teoricamente, a
multiplicação e a divisão fossem possíveis, a falta de mecanismos bem adaptados
exigia numerosas intervenções humanas e esforços consideráveis da parte do
operador.
Depois de Pascal, o problema foi abordado pelo matemático
e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz que elaborou mecanismos que permitiam executar essas operações por adições e subtracções
sucessivas.
A máquina de Leibniz foi concebida em 1673 mas construída apenas em 1694, tendo
sido a primeira máquina feita com o propósito de multiplicar. Uma dessas
máquinas pode ainda ser vista no Museu Kastner em Hannôver, a cidade onde Leibniz
passou os seus últimos anos. Contrariamente à máquina de Pascal, a de Leibniz
nunca foi comercializada embora tenha sido produzida uma segunda versão em 1704.
A máquina de Leibniz foi a primeira calculadora capaz de executar todas as operações aritméticas por
meios puramente mecânicos. O que não quer dizer que não
apresentasse problemas de funcionamento, sobretudo resultantes da complexidade
dos seus mecanismos. Mais ainda que Pascal, Leibniz abriu as portas ao
desenvolvimento do cálculo mecânico. No plano técnico, introduziu um número
considerável de novidades: um inscritor que permitia colocar um
número antes de o adicionar; um visor de posição; um accionador;
um carro que permitia a adição e a subtracção numa posição fixa, a
multiplicação numa posição móvel orientada para a esquerda, e a divisão em
posição móvel orientada para a direita; um sistema de tambores dentados com
comprimentos crescentes deslizando cada um sobre o seu eixo e substituindo
dez roldanas independentes.
A contribuição de Leibniz foi considerável e encontra-se na origem de uma linha
contínua de invenções que se prolongou até ao século XX. Na verdade, depois de
Leibniz vários outros inventores prosseguiram o seu caminho trazendo melhorias
de detalhe mais ou menos importantes. É o caso das máquinas do italiano Giovanni
Poleni (1709), do austríaco Antonius Braun (1727); do alemão Jacob Leupold,
concebida em 1727 e melhorada em 1728 por Antonius Braun e construída em 1750
por um mecânico denominado Vayringe; do alemão Phillipp Mattaüs Hahn elaborada
em 1770 e construída em série de 1774 a 1820; as duas calculadoras do inglês
Lord Stanhope (1775-1777) ou a do alemão Johann Hellfried Müller
(1782-1784). Para mais informações sobre
posteriores constructores de máquinas de calcular, consultar http://miami.int.gu.edu.au/dbs/1010/lectures/lecture4/Ifrah-pp121-133.html
Para melhor conhecer a máquina de Leibniz nada melhor que ler a tradução
de um texto do próprio Leibniz sobre a sua máquina aritmética. Trata-se de um texto publicado postumamente, em 1897, na revista
Dei Zeitscbrift fur Vermessungswesen, que se
encontra na livraria real da mesma cidade. O manuscrito foi escrito em 1685,
alguns anos depois da máquina ter sido inventada, e tem o título:
“Machina arithmetica in qua non additio tantum et subtractio sed et
multiplicatio nullo, divisio vero paene nullo animi labore peragantur.”