Dois poemas de José Anastácio da Cunha

 

Os Porquês do Amor

Céu, porque tão convulso  e consternado

Me bate, ao Vê-la, o coração no peito?

Porque pasma entre os beiços congelado,

Indo a falar-lhe, o tímido conceito?

 

Porque nas áureas ondas engolfado

Da caudalosa trança, inda que afeito,

Me naufraga o juízo embelezado,

E em ternura suavíssima desfeito?

 

Porque a luz dos seus olhos, tão activa,

Por lânguida inda mais encantadora,

Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?

 

Porque da mão nevada  sai tão viva

Chama, que me electriza e me devora?

Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!

 

 

Soneto

Copado, alto, gentil Pinheiro Manso;

Debaixo cujos ramos debruçados

Do sol ou lua nunca penetrados,

Já gozei, já gozei mais que descanso...

 

Quando para onde estás os olhos lanço,

Tantos gostos ao pé de ti passados

Vejo na fantasia retratados,

Tão vivos, que jàmais de ver-te canso!

 

Ah! deixa o outono vir; de um jasmineiro

te hei-de cobrir, terás cópia crescida

De flores, serás honra dêste outeiro.

 

E para te dar glória mais subida,

No meu tronco feliz, alto Pinheiro,

O teu nome escreverei de Margarida.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt