Que motivos levaram Dürer à matemática?

 

Na Idade Média  a pintura havia servido essencialmente para o embelezamento das igrejas pelo que os temas tratados eram preferencialmente religiosos. Porém, perto do final deste período, os pintores começaram a interessar-se pelo mundo natural. Os seus temas passaram a girar em torno da figura humana, da paisagem e de cenas do quotidiano. 

Inspirados pelo interesse no Homem e no Universo, os pintores do Renascimento ousaram olhar a natureza para a estudar e pintar com minúcia. A pintura é então uma janela transparente através da qual o artista olha uma parcela do mundo visível.

 É justamente o problema da descrição do mundo real que leva Dürer - e muitos outros pintores da renascença - à Matemática

Uma primeira razão diz respeito ao facto de os objectos a pintar estabelecerem entre si relações que não podiam ser resolvidas pela Geometria Euclidiana. A representação de  cenas a três dimensões nas duas dimensões de uma tela constituía um problema que só foi ultrapassado com a noção de perspectiva. E aqui , mais uma vez, foi necessária a ajuda da Matemática. Uma das principais diferenças entre a arte medieval e a arte renascentista é precisamente a introdução da terceira dimensão que permite ver a cena no espaço, representar a distância, o volume, a massa e os efeitos visuais.

Uma segunda razão foi o facto  de os artistas renascentistas, fortemente influenciados pela Filosofia grega, pensarem a Matemática como a essência do mundo. É porque o Universo pode ser explicado geometricamente que Dürer pode apoiar a  pintura de uma paisagem, por exemplo, o desenho das casas e a delimitação dos terrenos, em conteúdos matemáticos.

Existe  ainda uma terceira razão. O artista dos finais do período medieval e da renascença era, no seu dia-a-dia, arquitecto e engenheiro, o que, naturalmente, o obrigava a uma familiaridade com a matemática. Os problemas de construção eram encaminhados para os artistas. É o caso de Dürer que desenhou e construiu igrejas, palácios, mosteiros, pontes, fortes, barragens, canais e até instrumentos de guerra. Os artistas eram também chamados a resolver problemas balísticos que envolviam o movimento de bolas de canhão, tarefa que necessitava de profundos conhecimentos de Matemática. Não é pois  exagero dizer que o artista da renascença era o melhor praticante de Matemática, aquele que mais necessitava de Matemática para o exercício das suas diversas actividades.

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt