Nesta obra, Russell tem dois grandes objectivos. Um é provar que toda a matemática pura trabalha exclusivamente com conceitos que podem ser definidos em termos de um número muito pequeno de conceitos lógicos fundamentais e que todas as suas proposições podem ser deduzidas a partir de um número muito pequeno de princípios lógicos fundamentais. Mas, esta é uma tarefa difícil. Como o próprio Russell salienta, "a tese é muito recente entre os matemáticos e quase universalmente negada pelos filósofos." 1 O outro objectivo da obra é a explanação dos conceitos fundamentais que a matemática aceita como indefiníveis, sendo esta uma tarefa puramente filosófica. O trabalho evidenciado nesta obra teve início por volta de 1896 quando Russell, ao começar a sua investigação sobre Dinâmica, se deparou com certas dificuldades. Sentiu então necessidade de reexaminar os princípios da Geometria, o que o levou a recorrer à filosofia da continuidade e do infinito e, posteriormente, à Lógica Simbólica, com o intuito de descobrir o significado da palavra qualquer. Como podemos ver Russell era extremamente multifacetado o que lhe permitia fazer ligações entre diversas áreas que à primeira vista poderiam parecer bastante distintas. Apesar da obra apenas ter sido publicada em 1903, a maior parte dela foi escrita em 1900. No prefácio da obra, Russell menciona Georg Cantor (1845-1918) e Giuseppe Peano (1858-1932) como sendo os matemáticos que mais influenciaram o seu trabalho. Russell fala também de Frege e diz que "se tivesse tomado conhecimento do trabalho do Professor Frege mais cedo, teria ficado a dever-lhe bastante, mas assim cheguei independentemente a muitos resultados que ele já tinha establecido." 1 De facto, quando esta obra começou a ser impressa, Russell desconhecia a maior parte do trabalho de Frege. Já tinha visto o Grundgesetze der Arithmetik, mas devido à grande complexidade do simbolismo proposto por Frege, Russell teve dificuldade em compreender o seu conteúdo. A única maneira que Russell teve para « fazer justiça » a Frege, numa fase tão adiantada da sua obra, foi dedicar um Apêndice ao seu trabalho. Nos anos subsequentes à publicação do livro, os temas aí abordados foram amplamente discutidos e as técnicas lógicas e matemáticas utilizadas foram melhoradas. É por isso que numa edição posterior de "The Principles of Mathematics", Russell afirma com humildade: "o interesse que o livro agora pode possuir é histórico e consiste no facto de representar uma certa etapa do desenvolvimento do seu assunto." 3 Na verdade, Russell foi o primeiro a admitir que estudos efectuados posteriormente permitem concluir que algumas das suas teses então apresentadas estavam erradas:
No prefácio de "The Principles of Mathematics", Russell refere que tenciona elaborar um segundo volume desta obra, para o qual já havia assegurado inclusivamente a colaboração de A. N. Whitehead. Na realidade esse volume nunca chegou a existir. Contudo e juntamente com Whitehead, Russell elaborou uma outra obra - Principia Mathematica - da qual falaremos de seguida.
Os Principia Mathematica foram escritos com o objectivo de defender a tese do logicismo. A obra foi objecto de grande controvérsia. O tipo de argumentação utilizada por Russell e Whitehead, não conseguiu cumprir o objectivo a que ambos se propunham. Em vez de reduzir a matemática à lógica, apenas conseguiram reduzi-la à teoria dos conjuntos. No entanto, ao proporem e utilizarem uma notação superior à de Frege, Russell e Whitehead conseguiram dotar a lógica moderna de um sistema de notação jamais alcançado. É por isso que esta obra, a par do Organon de Aristóteles, é por muitos considerada como o livro mais influente que alguma vez foi escrito sobre lógica. 1-Russell, B. (1964). The Principles of Mathematics, prefácio à primeira edição. Northampton: John Dickens & Co LTD, pp. ix-x.
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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