Platão e a Matemática
Platão era um entusiasta da Matemática. Os grandes matemáticos do seu tempo, ou foram seus alunos, ou seus amigos. Nesse sentido, não se poderá deixar de referir que, à entrada da Academia, segundo fontes posteriores, se lia a máxima: “Que não entre quem não saiba geometria”
Para Platão a Matemática é, antes de mais, a chave da compreensão do universo. Indagado certa vez sobre a actividade do demiurgo, respondeu: “Ele geometriza eternamente”.
Além
disso, a Matemática é o modelo de todo o processo de compreensão. Se
a missão da filosofia é descobrir a verdade para além da
opinião e da aparência, das mudanças e ilusões do mundo temporal, a
Matemática é um exemplo
notável de conhecimento de verdades eternas e necessárias independente da experiência dos
sentidos. “ela tem um efeito muito grande na elevação da mente compelindo-a a raciocinar sobre entidades abstractas” *** Platão sempre considerou que a ciência dos números ou aritmética se encontra acima de muitas outras que eram tidas como essenciais para as artes profissionais.
A lenda atribui a paternidade da aritmética
ao herói Palamedes que combateu em frente de Tróia e de quem se diz que
ensinou ao chefe supremo Agamémnon o uso da nova arte para fins estratégicos e
tácticas. Platão ri-se dos que assim pensam pois, segundo ele, Agamémnon não
teria sido capaz nem sequer de contar os dedos, muito menos, os contingentes do
seu exército e da sua frota. Ora, para Platão, a aritmética é muito mais do que uma simples ciência auxiliar para o combate. O seu valor não reside nas suas aplicações práticas. Sem ela o Homem não seria Homem. É com uma riqueza impressionante de análise que Platão determina o valor cultural da matemática como algo que purifica e estimula a alma, um saber que faz voar o pensamento para os objectos mais sublimes, que arrasta a alma para o Ser. A sua eficácia reside em facilitar, àqueles que para ela têm talento, a capacidade para compreender toda a classe de ciências. Quanto
aos preguiçosos, ao serem iniciados e treinados, ainda que outra utilidade a
matemática não lhes traga, ao menos estimula neles a agudeza de espírito. É que, como diz Platão na República, a matemática é “mais importante que dez mil olhos” (527 E).
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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