A Escola Nuno Gonçalves

A construção da escola

Construção da escola no início dos anos 50

[Contexto da construção] [Projecto] [Tipo de Construção]

O contexto da construção da escola

No plano de distribuição das escolas técnicas elementares de Lisboa, tornou-se necessário construir uma escola que servisse as populações dos bairros do Alto do Pina, Penha e Vale Escuro,  em crescente urbanização. 

O Ministério da Educação Nacional denominou esta escola Técnica Elementar Nuno Gonçalves e teve a maior urgência em pô-la a funcionar, de forma a deslocar a população escolar que ocupava as antigas instalações do Liceu Gil Vicente, nos Paços de S. Vicente, restituídas ao Patriarcado em 1951.

Como todas as escolas técnicas elementares de Lisboa e Porto daquela altura, as instalações destinavam-se a uma população escolar de 30 turmas (cerca de 1000 alunos) e, no caso desta escola, visavam a frequência masculina.

O terreno, onde se situa a escola, foi indicado pela Câmara Municipal de Lisboa e aprovado pelos Ministros da Educação Nacional e Obras Públicas. Confronta a poente com a Avenida General Alves Roçadas e forma um quadrilátero com aproximadamente um hectare de área. Grande parte do terreno pertencia à Câmara tendo sido necessário, após algumas negociações, a expropriação de diversas casas e de uma antiga quinta.

O Projecto 

O projecto da Escola Técnica Elementar Nuno Gonçalves foi elaborado pelos Serviços Técnicos da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário. O grupo técnico que colaborou no referido projecto foi constituído pelo Arquitecto António José Pedroso, Engenheiro Gabriel de Matos (engenharia civil), Engenheiro António Carvalho Lopes Monteiro (engenharia electrotécnica), Joaquim Infante (medição e orçamento) e Jorge Neto Tavela de Sousa (mobiliário).

“O projecto teve por base o projecto-tipo estudado para as escolas técnicas elementares, na sua forma esquemática. As pequenas alterações que foram introduzidas derivam da experiência tirada da construção das primeiras escolas e têm por fim introduzir ligeiras beneficiações sugeridas pelo Conselho Superior de Obras Públicas. Mantêm-se porém integralmente o princípio da existência de três corpos de construção – corpos de aulas, de oficinas e educação física – e a disposição correlativa dos corpos é também uma das indicadas nos estudos iniciais de adaptação dos projectos tipo” (Memória Descritiva e Justificativa do Projecto de Construção da Escola Técnica Elementar Nuno Gonçalves, Ministério da Educação).

Os três corpos foram dispostos em U, tendo por base o corpo de oficinas e estabelecendo-se a ligação entre os dois outros corpos através da galeria-recreio coberto, ficando este último aberto a sul. Esta disposição era considerada na altura como a mais simples, conveniente e funcional.

Corpo de aulas

Após vários estudos para implantação dos três corpos da escola ficou resolvido que a frontaria mais valorizada do corpo principal (aulas) ficaria de frente para a Avenida General Alves Roçadas. Consequentemente as salas de aula ficaram orientadas 82ºSE, embora a Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário considerasse preferível a orientação a sul. No entanto admitiam ainda a orientação a nascente, como era usual ocorrer nos antigos liceus em Lisboa, considerando alguns higienistas da altura como sendo a orientação mais vantajosa.

Com este tipo de orientação as aulas de desenho, viradas a poente, ficaram beneficiadas uma vez que os edifícios escolares eram equipados com estores interiores de lâminas metálicas de inclinação variável permitindo, deste modo, regular e difundir a luz.

De salientar que no projecto desta escola foi introduzida uma modificação, colocando-se a entrada ao centro da fachada do edifício. Nos projectos-tipo desta altura a entrada para o corpo de aulas localizava-se, normalmente, junto a um topo o que era considerado funcionalmente bom. Iniciou-se assim, com a Escola Nuno Gonçalves, uma nova expressão das frontarias das escolas.

No seguimento destas alterações foram transferidos para o primeiro piso todos os serviços gerais e as aulas de ciências naturais.


Corredor do 1º piso

 

No segundo piso foram situadas algumas aulas,  salas de desenho e a biblioteca.

No terceiro piso também foram localizadas aulas, salas de desenho e o museu, sendo este constituído por três dependências em forma de átrio (duas nos topos das escadas e a última na parte central do corpo).


Porta de entrada da biblioteca

O tipo de construção adoptado nesta escola permitiu a instalação de várias arrecadações no vão do telhado.

Os corredores do primeiro e terceiro pisos possuem iluminação e ventilação naturais, enquanto no corredor do segundo piso foi necessário colocar janelas e chaminé ventiladora.

As instalações sanitárias dos alunos ficaram localizadas entre os corpos de educação física e as oficinas, permitindo deste modo a sua comunicação e o fácil acesso durante o recreio. Foram também previstas instalações sanitárias de emergência no primeiro e terceiro pisos do corpo de aulas

Corpo de oficinas

A disposição do corpo de oficinas respeitou as indicações do projecto-tipo. No entanto, no seu aspecto exterior foi totalmente alterado o tipo de cobertura. No projecto-tipo, a cobertura apresentava empenas nos topos de cada dependência, ficando com um lanternim longitudinal. A decisão passou por usar como cobertura “laje de betão armado, recebendo as oficinas de topo a luz por janelas altas abertas nas três faces enquanto as restantes oficinas ficam iluminadas por janelas abertas nas extremidades e por um lanternim central em que os caixilhos envidraçados são verticais” (in Memória Descritiva e Justificativa do Projecto de Construção da Escola Técnica Elementar Nuno Gonçalves, Ministério da Educação).

Corpo de educação física

Este corpo respeitou o projecto–tipo incorporando o ginásio-sala de festas no segundo piso, o refeitório-cozinha, o balneário-vestiário e a sala de canto coral no primeiro piso. Esta sala tinha acesso pelo exterior com vista á facilitação da sua utilização enquanto única sala em anfiteatro para conferências. No entanto, para poder ser utilizado em dias de chuva, foi feito um outro acesso, coberto, que passava pelo ginásio


Corpo do ginásio

Tipo de construção

As características geológicas e geomorfológicas do terreno determinaram a utilização de fundações directas de alvenaria a profundidades variáveis (média 2,0m).

O tipo de construção foi o correntemente utilizado pela Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário nomeadamente, paredes de alvenaria e pavimentos de betão armado, inclusivamente o último corpo de aulas que serve de suporte aos pilares onde se apoiam as madres de cobertura. No entanto, o tecto do ginásio é de madeira com asnas à vista. Foram utilizados, pela primeira vez, tectos lisos formados por espessas lajes com intercalações de tijolos cerâmicos de construção não patenteada.Foi ensaiado, no primeiro piso, o suporte das caixas de ar dos pavimentos de soalho através de um sistema de abóbodas de tijolo fechadas, directa e simplesmente apoiadas em pequenas paredes de fundação.

Os principais materiais utilizados foram cantaria de calcário branco e telha tipo românico sobre estrutura de madeira no telhado. Relativamente aos revestimentos interiores estes foram os correntemente utilizados, nomeadamente, soalho e paredes de massa de areia nas salas de aula normais, azulejos hidráulicos com incorporação de pedra miúda nos corredores e corticite nas aulas de ciências naturais.

Orçamento

A verba disponível para a construção da escola foi fixada pelo programa de construção dos edifícios escolares profissionais, ao abrigo do decreto nº. 37028, no valor de 9.500.000$00. Depois de descontado o valor de 600.000$00 para compra do terreno e a percentagem para gastos gerais de 4,7619%, o valor disponível ficou reduzido a 8.447.629$00.

O custo obra da escola ficou previsto num total de 8.520.435$00, o qual pode ser assim discriminado: 

6.551.010$00 – Construção civil; 591.223$00 – Arranjos exteriores; 420.228$00 – Instalação eléctrica; 757.754$00 – Mobiliário; 200.000$00 – Projecto e fiscalização.

Olga Pombo opombo@fc.ul.pt