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A admissão nas Universidades

As universidades europeias do século XIII, XIV e XV não impunham quaisquer condições para a admissão de estudantes. O único acto formal que era necessário era o da matrícula. No entanto, não existiam períodos fixos para tal, nem era exigida idade mínima, para ser admitido na universidade.
O único critério de admissão, para além do facto de ser baptizado, era uma prova de legitimidade de nascimento, que, na prática, se resumia frequentemente à simples afirmação, por parte do estudante, da sua própria legitimidade. Contudo, esta afirmação era apenas necessária se a pessoa quisesse adquirir um grau académico.
As universidades aceitavam todos os que desejavam tornar-se suppositum ou membrum universitatis. A origem, o estatuto, a distância ou proximidade da residência, pobreza ou riqueza, robustez ou deficiência não eram razões para a não admissão nas universidades. Nem mesmo a cegueira era obstáculo, como se pode comprovar pelo caso de Nicasius de Voerda, de Mechelen, Brabante, mais tarde professor artie et juris, que era cego desde os dois anos de idade.
Na época medieval, a frequência de um curso implicava apenas uma associação do indivíduo com o magister e seus alunos, independentemente de ser uma faculdade, colégio, residência ou nação. Contudo, esta associação tornou-se obrigatória e em 1215, já se afirmava que ninguém era considerado estudante da Universidade de Paris se não tivesse um professor permanente. Esta regra era seguida por todas as universidades que seguiam o modelo parisiense. No entanto, nas universidades que seguiam o padrão da Universidade de Bolonha, as nationes e societates estudantis ocupavam uma posição mais proeminente, embora a figura central continuasse a ser o professor.
Ao ser admitido na universidade, o estudante escolhia o seu magister de acordo com várias regras que incluíam o local de proveniência, amizade, conhecimento pessoal, apresentações e empenhos. Desta forma, era tarefa do professor universitário, e não da universidade como um todo, verificar a capacidade dos seus clientes para estudar. Durante o primeiro século, o salário do professor era pago por cada aluno seu, e como tal, era do interesse dele ter o maior número possível de alunos. O estudante tinha ainda que discutir o preço das lições e exames e, por vezes, da pensão.
Por vezes, o futuro estudante apresentava uma carta de recomendação: "Pedimo-vos que recebais, por amor por nós, da vossa escola, este jovem de bom carácter e muito amante das letras... tende a bondade de o ajudar enquanto ele se encontrar junto de vós... pertence à minha família".
A frequência prévia de uma escola não era exigida, nem absolutamente necessária. O mesmo princípio se aplicava ao latim. É possível que o sotaque do futuro estudante indicasse as suas origens sociais e nacionais, bem como a extensão dos seus conhecimentos de latim, que geralmente não eram suficientes para frequentar um curso superior. No final do século XV, o latim dos estudantes e, até dos mestres, aproximava-se cada vez mais da língua materna. Nem sequer está provado, que todos os que frequentavam a universidade sabiam ler ou escrever. Tudo isto provinha do facto de as escolas e as universidades não estarem ligadas do ponto de vista funcional. Não existia um padrão educacional organizado que conferisse ao indivíduo um conjunto-padrão de conhecimentos básicos. 
A transferência de uma universidade para uma escola e vice-versa era bastante comum. O facto de praticamente não ser feita distinção entre os termos "alunos" e "estudante universitário" constitui uma prova da inexistência de limites claramente definidos entre as universidades e as escolas. Os que frequentavam tanto as escolas como as universidades eram chamados scholares, este termo designava, antes de mais, o carácter da relação entre o magister e a sua schola e o estatuto do primeiro. O mesmo se aplicava aos scholares graduati nas faculdades superiores de Medicina, Direito e Teologia. Os termos studens e studentes referiam-se mais à actividade de estudar do que a um estatuto particular no âmbito da universidade.
A vantagem decisiva das universidades em relação a qualquer tipo de escola era a posição privilegiada e o direito das primeiras de efectuar exames e conceder graus académicos, status in studio.
Apesar de ser possível, em princípio, frequentar uma universidade sem qualquer educação prévia, na prática as coisas foram tomando um rumo diferente.
O nível geral de conhecimentos tinha, evidentemente, uma importância excepcionalmente grande para a frequência de uma universidade. Nos locais onde é possível definir as provas com exactidão, como é o caso das cidades em redor das universidades alemãs, as referidas provas demonstram que, a partir do séc. XIV, as escolas eram o requisito "normal" para a frequência da universidade. Em finais da Idade Média, ¾ dos estudantes da Universidade de Colónia, por exemplo, cumpriam este requisito.
Os mestres das faculdades de Artes encarregavam-se de compensar as eventuais lacunas académicas de alguns estudantes, pois estes provinham de regiões diferentes. Para que um estudante pudesse tornar-se membro de um grupo formado em redor de um magister, era necessário que soubesse um mínimo de latim; caso isto não se verificasse, os mestres leccionavam aulas particulares. Desde muito cedo que as chamadas paedagogia estavam presentes nas faculdades de Artes, onde era necessário um conhecimento básico inicial para se poder participar capazmente no cursus da faculdade. Em algumas cidades universitárias, as escolas de Latim abarcaram também as funções das paedagogia, ainda em parte sob a supervisão da igreja local, com em Cambridge, Coimbra (Santa Cruz) e Paris (Notre-Dame) e também em parte sob supervisão das universidades, como em Oxford, Salamanca ou Viena (Sto. Estêvão).

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt