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Caracterização da população estudantil

Podem-se distinguir cinco tipos de estudantes de entre os que frequentam a universidade. O primeiro tipo encontra-se nas faculdades de Artes. O estudante é, na maioria dos casos, um jovem entre os 14 e os 16 anos, que, por norma se matricula numa universidade pela primeira vez. Este estudante frequentou, muito provavelmente, a escola de Latim na sua região natal e adquiriu pelo menos um conhecimento básico da leitura, da escrita e da gramática latina. Liga-se então a um mestre da sua escolha e, sob a orientação dele, inicia o aprofundamento de conhecimentos no cursus de Artes. A sua frequência na universidade limita-se a uma duração média de apenas 1,8 anos. Este tipo de estudante não efectua quaisquer exames e não adquire um título académico. O estudante inclui-se, frequentemente, nos 50%, ou mais, do total de frequentadores.
O segundo tipo de estudante também se encontra nas faculdades de Artes. A sua frequência universitária não é muito diferente da do estudante do primeiro género. Em termos de idade, educação prévia e antecedentes sociais, quase nada os distingue, no entanto, este segundo deseja adquirir o grau de baccalarius artium, o qual pode ser obtido após dois a dois anos e meio de trabalho. O estudante tem então entre os 16 a 19 anos de idade. Os bacharéis em Artes correspondem, entre 1350 e 1500, aproximadamente 20% a 40 % da frequência universitária. Para 2/3 deles, o baccalarius artium é o único grau que irão obter.
O terceiro tipo também está associado às faculdades de Artes, mas tem objectivo que as ultrapassam. Este tipo de estudante que começa sempre com o baccalarius adquire, após um período de dois a três anos, o grau de mestre em Artes. Nesta fase, ele terá geralmente entre 19 e 21 anos de idade. Se não deixar a universidade com este grau - o qual está ligado à obrigação de ensinar durante dois anos na área de artes - então segue os estudos nas faculdades superiores de medicina, Teologia ou Direito Civil ou Canónico. Em média, entre o século XIII e XIV, ele representa apenas 10 a 20% dos que constituem a população universitária. Mais decisivo é, no entanto, o facto de que sendo ainda formalmente um estudante, ele tem, simultaneamente, a função de dar aulas. O estudante-mestre, geralmente em Teologia ou Medicina, ensina os jovens membros da faculdade de Artes, os quais pertenciam ao primeiro ou segundo tipo.
O quarto tipo de estudante é fundamentalmente diferente dos três anteriores. É caracterizado por uma alta posição, por um grande respeito pela sua pessoa e família de origem, pela nobreza ou pela posse de proventos eclesiásticos. Socialmente, o lugar típico e mais adequado não é para ele a faculdade de Artes, nem o ambiente social dos estudantes de Medicina ou de Teologia, mas sim a faculdade superior ou universidade de juristas.
O quinto e último tipo é comparável ao estudante actual, já que a sua intenção é concluir os seus estudos com um exame e, talvez com um doutoramento. Regra geral, este "estudante especialista" continua com os seus estudos após o baccalaurius de uma das faculdades superiores e tira a licenciatura em Medicina, Teologia, Direito Civil ou Canónico, ou ambos - um grau que também confere o direito de ensinar nas faculdades em questão. Tal como o estudante actual, também ele estará nessa altura com 20 ou 30 anos de idade. A este tipo de estudantes corresponde apenas uma reduzida percentagem de estudantes (2% a 3% do total dos que frequentam as universidades alemãs).
O mundo do estudante medieval era completamente masculino. Não havia lugar neste mundo para a jovem ou mulher estudante. Contudo, havia excepções que podiam ser atribuídas a um ambiente social particular, ou por proximidade a um rei ou príncipe. As famílias dominantes, nobres ou burguesas, sobretudo no Sul da Europa, faziam educar os seus filhos e filhas da mesma forma por tutores privados. Desta forma, algumas mulheres atingiram um elevado nível de conhecimentos em todas as áreas, mesmo em Direito, e foram capazes de frequentar a universidade. Por exemplo, Magdalena Buonsignori ou Novella d'Andrea, a filha do conhecido e próspero professor de Bolonha, Johannes Andreae, estudaram de acordo com a sua posição e tornaram-se famosas eruditas em Direito. Apesar de tudo, as mulheres podiam legalmente ser membros da universidade. Como esposas dos professores, criadas, moças de recados ou cozinheiras nas faculdades ou casas de estudantes, elas eram consideradas associadas da universidade, tal como os síndicos e escribas, os boticários, os fabricantes de papel e pergaminhos ou os impressores de livros.

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt