Trabalho realizado por Ana Isabel Lopes e Sónia Santos, no âmbito da cadeira de História e Filosofia da Educação leccionada por Professora Olga Pombo.

Introdução

 

 

Um medo assombrou a Europa, na segunda metade do séc. XVIII. Os cemitérios, conventos, hospitais e prisões suscitavam uma onda de desconfiança e rejeição. Eram ambientes escuros que impediam a visibilidade das coisas, das pessoas e das verdades. Estes ambientes eram  incompatíveis com a nova ordem política. Pelo que era necessário eliminar esta obscuridade e escuridão, de modo a dar lugar à transparência e visibilidade.

  Geremy Bentham

      O problema das prisões, foi o que tomou maior ênfase. Era tema de estudo e discussão na sociedade da época. A situação de “escola de vício e de crime” e lugar “desprovido de higiene” forçou a procura de um projecto de reorganização das prisões.  

    O Panóptico de Geremy Bentham foi caracterizado como a “figura arquitectural” ideal.   

    Segundo Foucault o Panóptico despertou interesse, pelo facto de ser aplicável a muitos domínios diferentes. Não se tratava apenas de uma prisão. O Panóptico, é um princípio geral de construção, um dispositivo polivalente de vigilância, uma máquina óptica universal das concentrações humanas.

 

 Michel Foucault

     É polivalente em todas as suas aplicações: serve para emendar os prisioneiros, mas também para cuidar dos doentes, instruir os escolares, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos.

Foucault,(1997),pag:170

Bentham concebeu o Panóptico não com um  único destino mas, com algumas adaptações serviria tanto para prisões quanto para hospitais, escolas e fábricas.

Foucault vê o Panóptico como uma “diabólica peça de maquinaria”, um microcosmo idealizado da sociedade do séc. XIX. Onde a disciplina se torna institucionalizada nas prisões, nas escolas, nos hospitais e nos asilos. Esta age mediante a interiorização de uma sujeição que era implantada nas mentes através da vigilância. Servia para corrigir os prisioneiros, para cuidar dos doentes, instruir os estudantes, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. Em cada uma das suas aplicações, permitia aperfeiçoar o exercício do poder. O Panóptico constituiu ou ajudou a construir, uma forma de poder no final do séc. XVIII. Este poder, passou a imperar nas prisões, hospitais, fábricas, conventos e escolas, aperfeiçoando gradualmente o seu alcance até aos indivíduos. Ao contrário da escuridão das masmorras ou da punição exemplar transformada em espectáculo, o poder disciplinar projecta luz sobre cada condenado, baseando-se na visibilidade, na regulamentação minuciosa do tempo e na localização precisa dos corpos no espaço. Isto possibilita o controle, o registro e a acumulação de saber sobre os indivíduos vigiados, de forma a torná-los dóceis e úteis à sociedade. Instaura-se assim uma nova tecnologia do poder, que se torna cada vez mais complexa e abrangente. Passa-se então do Panóptico ao panoptismo.  

O panoptismo é o princípio geral de uma nova “anatomia política”.O seu objecto e finalidade não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina. Desta forma, Foucault observa a formação de uma sociedade disciplinar, situada nos séc. XVIII e XIX, que atingiu o seu apogeu no início do séc. XX.

Todavia, a sociedade disciplinar, que se fundamentava na organização dos grandes meios de confinamento, família, escola, caserna, fábrica, hospital e prisão, atravessou uma crise. Depois da Segunda Grande Guerra o modelo emblemático das sociedades disciplinares começa a ser substituída por um novo modelo. Constituíam-se novas formas de sociabilidade e de subjectividade num momento que se marca pela passagem de uma sociedade disciplinar para uma sociedade de controle.

Em “Vigiar e Punir”, Foucault define os mecanismos de sujeição do corpo como uma tecnologia. Há um saber sobre o corpo e um controle sobre as suas forças. Na sociedade de controle, surgem novos mecanismos de vigilância, com poder suficiente para tornar o indivíduo incapaz de esboçar qualquer reacção.

No Panóptico, o controle faz-se por meio da visibilidade total e permanente dos indivíduos. Assim, este dispositivo tornou-se o paradigma dos sistemas sociais de controle e vigilância total. Nas sociedades actuais, o princípio do Panóptico continua plenamente activo mas agora exerce-se nas novas formas de controle implementadas pelas novas tecnologias. A quase omnipresença destas, traz consigo novas práticas e novas relações de poder. Por possuírem apenas uma parcela mínima de materialidade, não necessitam de construções específicas. Os novos dispositivos são instalados no interior de todos os espaços já existentes.

Na sociedade disciplinar o observador está presente e em tempo real a observar e a vigiar os indivíduos. Na sociedade de controle  esta vigilância torna-se rarefeita e virtual. Todavia, o efeito causado nos indivíduos parece ser o mesmo: são ao mesmo tempo visíveis e incapazes de ver. Tanto nas sociedades disciplinares, quanto nas sociedades contemporâneas, os indivíduos sentem-se controlados pela força penetrante do olhar, tornando-se assim “dóceis”e “úteis”.

Cabe aqui colocar uma questão:

Será que os indivíduos modernos, têm consciência do carácter subordinante dominador e insuportável da nova forma de vigilância? Ou consideram-na como natural?

 

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