O texto que aqui traduzimos é um extracto da obra Vida de Marcelo da autoria de Plutarco, um dos mais profícuos e cativantes prosadores gregos do período Greco-Romano.  

O texto
narra um episódio relativo à participação de Arquimedes no terrível conflito armado que opôs Roma a Cartago entre os anos 218 - 201 a.C. 

 

          Segundo a tradição, Plutarco terá escrito mais de 200 livros. Chegaram até nós cerca de 50 biografias de gregos e romanos ilustres reunidas em Vidas Paralelas e ainda 78 escritos sobre os mais variados tópicos. É difícil avaliar a extensão de influência de Plutarco. Ele é certamente um dos autores gregos mais lidos dos últimos 500 anos. Montesquieu (1689/1755), Rousseau (1712/1778) e Napoleão (1769/1821), entre outros, inspiraram-se nele e o grande Shakespeare (1564/1616) terá recorrido directamente a Pluatarco para escrever, por exemplo, Júlio César, Coriolano, António e Cleópatra...

 

O mapa mostra a extensão dos território romano e cartaginês após a II Guerra Púnica.

 

Como escreve Maria Fernanda Estrada: 

" Siracusa estava na zona de influência cartaginesa e foi cercada, no decurso da segunda guerra púnica, pelas tropas do general roma Marcelo. A tradição, transmitida por diversos autores antigos, entre os quais se destaca o biógrafo Plutarco (é esse justamente o texto que aqui traduzimos) apresenta Arquimedes como tendo inventado máquinas de guerra terríveis, que espalhavam a desordem e o terror nas hostes inimigas. Arquimedes conseguiu atrasar significativamente a tomada da cidade pelos romanos, mas não a consegui evitar, e foi morto furante o saque que se lhe seguiu." (Estrada et allii, História da Matemática, 2000: 304 e 305).

 

Vida de Marcelo

(Traduzido a partir de uma versão em língua inglesa de J. R. Newman (1988), in The World of Mathematics, Washington: Tempus Books, vol I, pp.175-179)

 

         Marcelo, irritado por injúrias feitas por Hipócrates, comandante dos Siracusanos (que, para dar provas da sua boa amizade para com os Cartagineses e para se transformar em tirano, matou muitos Romanos em Leontini) sitiou e tomou pela força a cidade de Leontini. Nenhum dos habitantes da cidade foi maltratado; somente os desertores que, tantos quanto consegui saber, sujeitou à punição do açoite e machado. Mas Hipócrates enviou um boato para Siracusa, segundo o qual Marcelo tinha ameaçado toda a população adulta com a espada e agora se dirigia para os Siracusanos. Estes levantaram-se em tumulto por causa desse falso boato, e Hipócrates nomeou-se a si próprio tirano da cidade. Por causa disto, Marcelo deslocou-se com todo o seu exército para Siracusa e, acampando perto da muralha, mandou embaixadores para a cidade para relatar aos Siracusanos a verdade sobre o que tinha acontecido em Leontini. Quando a situação deixou de poder ser mantida pacificamente, estando toda a autoridade então nas mãos de Hipócrates, Marcelo foi por diante com o ataque à cidade, tanto por terra como por mar. As forças terrestres foram conduzidas por Appius: Marcelo, com sessenta galés, cada uma com cinco fileiras de remadores, equipadas com todo o tipo de armas e mísseis, e uma enorme ponte de madeira atravessada em oito navios acorrentados uns aos outros, cada um transportando um mecanismo para lançar pedras e flechas, atacou as muralhas, confiando na abundância e no esplendor dos seus preparativos, e na sua própria glória anterior. Tudo isto, contudo, foram apenas ninharias para Arquimedes e as suas máquinas.  

Hipócrates lançou um boato sobre Marcelo para se tornar tirano de Siracusa.

 

Marcelo, sentindo-se injuriado e não podendo provar que o boato era falso, atacou Siracusa por terra e por mar.

As máquinas de Arquimedes iriam revelar-se muito poderosas e decisivas para atrasar a conquista de Siracusa.

Estas máquinas foram desenhadas e inventadas por Arquimedes, não como assunto de alguma importância, mas como meros divertimentos em geometria, em conformidade com o desejo e pedido do Rei Hierão, formulado pouco tempo antes e segundo o qual Arquimedes deveria pôr em prática algumas das suas admiráveis especulações em ciência. Este esforço de ajustamento da verdade teórica à utilidade e ao uso vulgar originou em geral grande estima das pessoas por Arquimedes. Eudoxus e Archytas foram os primeiros criadores destes longinquamente famosos e altamente apreciados mecanismos, que usaram como uma elegante ilustração da verdade geométrica e como meio de sustentar experimentalmente, com satisfação dos sentidos, conclusões demasiado intrigantes para serem provadas com palavras e gráficos. Por exemplo, para resolver o problema, tão frequentemente requerido em construção de figuras geométricas, dados os dois extremos, encontrar duas rectas médias de uma proporção, ambos os matemáticos recorreram à ajuda de instrumentos, adaptando ao seu propósito certas curvas e segmentos de recta. O que desencadeou a indignação de Platão e as suas invectivas contra estas construções que Platão considerava como mera corrupção e aniquilação de uma boa geometria que assim era indignadamente afastada dos objectos imateriais da pura inteligência e de novo recorria aos sentidos e pedia ajuda (não para continuar sem suporte e depravação) à matéria. Foi deste modo que os mecanismos se tornaram separados da geometria e, repudiados e mal tratados por filósofos, tomaram o seu papel como uma arte militar. Arquimedes, que era parente e amigo do Rei Hierão, escreveu-lhe que, com uma dada força, era possível mover qualquer peso; e, encorajado, como se diz, pela força da demonstração, declarou que, se houvesse outro mundo e ele pudesse ir para esse mundo, daí ele poderia mover este. Hierão ficou assombrado e suplicou-lhe que desse  uma demonstração parcial do problema e mostrasse a possibilidade de alguns objectos grandes serem movidos por pequenas forças. Arquimedes em consequência escolheu um navio mercante de três mastros de entre os navios do rei que foi arrastado para terra com grande esforço por um largo grupo de homens e, depois de ter posto a bordo muitos homens e a carga habitual, Arquimedes a alguma distância dali e sem especial esforço, puxou gentilmente com a sua mão na extremidade de uma complexa roldana de retorno e moveu o barco suavemente e uniformemente em direcção a si como se ele estivesse a flutuar na água. Espantado com isto, e percebendo o poder desta arte, o rei persuadiu Arquimedes a construir mecanismos para serem usados em todo o tipo de situação de guerra, alguns defensivos e outros ofensivos; ele próprio não usou estes mecanismos porque passou a maior parte da sua vida afastado da guerra e em paz, mas os seus instrumentos revelaram-se de grande vantagem para os Siracusanos, e com o instrumento seu inventor.

Arquimedes não dava muita importância às máquinas que construia, para ele eram meros divertimentos. Estas máquinas foram construidas a pedido do rei Hierão e fizeram com que Arquimedes fosse muito estimado por parte da população em geral.

Eudoxos e Archytas foram os primeiros a fabricar mecanismos semelhantes aos de Arquimedes.

Estes mecanismos serviam para sustentar verdades geométricas que pareciam demasiado intrigantes.

 

Platão considera que estas construções eram mera corrupção da boa geometria. Para Platão os elementos da matemática não são realidades do mundo físico, são subsistentes, pre-existentes, estão fora do sugeito e são independentes dele. Para Platão conhecemos os seres Matemáticos através da contemplação e não necessitamos de experiências físicas.

Os mecanismos foram repudiados pelos filósofos e passaram a fazer parte da arte militar e não da geometria. Foi aqui que surgui a separação entre ciência pura e a ciência aplicada.

Em carta ao Rei Hierão Arquimedes escreveu-lhe a sua célebre frase onde diz que conseguiria mover este mundo.  

Para demonstrar ao Rei Hierão o poder da sua teoria, Arquimedes moveu, sem grande esforço, um grande navio carregado com a carga habitual.

 

O Rei, apercebeudo-se das potencialidades desta descoberta, pediu a Arquimedes que construir-se mecanismo para serem usados em situações de guerra.

          Por consequência, quando os Romanos atacaram Siracusa por terra e por mar, os Siracusanos estavam silenciosamente com medo, pensando que nada poderia valer-lhes contra tal violência e poder. Mas Arquimedes começou a pôr em funcionamento as suas máquinas e lançou com violência contra as forças terrestres toda a espécies de mísseis e grande quantidade de pedras, que caíam com um barulho e velocidade incríveis; o peso desses mísseis tudo atacava, deitavam ao chão tudo o que aparecia no caminho e abriam as fileiras para a desordem. Além disso, a partir das muralhas, foram subitamente lançadas hastes de âncoras sobre os barcos, e alguns dos navios foram afundados por meio de pesos fixos às hastes das âncoras que surgiram do alto; outros eram puxados por grampos de ferro, ou beques tipo guindaste, presos à proa, e eram imersos na sua popas, ou eram torcidos em círculo e virados por meio de cordas no interior da cidade, e desfeitos contra os penhascos colocados pela Natureza por debaixo da muralha e contra as rochas, com enorme destruição da tripulação, que era triturada em pedaços. Frequentemente, havia a terrível visão de uma navio erguido do mar para o ar e que  rodopiava como se preso, até os homens serem atirados para fora e disparados em todas as direcções, quando o navio caía vazio sobre as muralhas ou escorregava do cabo que o tinha ajudado. No que diz respeito ao mecanismo que Marcelo trazia na plataforma dos navios, e que era chamado sambuca por alguma semelhança no seu formato com o instrumento musical, enquanto ainda estava a alguma distância dali, sendo carregado para a muralha, uma pedra de dez toneladas de peso foi lançada sobre ele e, depois desta, uma segunda e uma terceira; alguma delas, caindo com grande estrondo no mar dando origem a uma onda, esmagaram a base do mecanismo, sacudiram a armação e expulsaram-no da barreira.  Marcelo, perplexo, navegou dali para fora e passou a palavra à sua força terrestre para se retirar.  

Quando os Romanos atacaram Siracusa, os Siracusanos não acreditavam que podessem evitar a conquista de Siracusa. Mas Arquimedes começou a lançar pedras enormes e hastes de âncoras. Vários navios foram afundados e muitas pessoas foram mortas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Arquimedes destuiu a sambuca de Marcelo arremessando pedras com dez toneladas.

          Num concílio de guerra foi decidida uma aproximação às muralhas, durante a noite. Os romanos pensavam que as cordas usadas por Arquimedes, como davam um impulso poderoso, iriam mandar os mísseis por cima das suas cabeças e iriam falhar o seu objectivo uma vez que não havia espaço para o seu lançamento. Mas Arquimedes, ao que parece, tinha a algum tempo preparado para tal uma contingência de mecanismos adaptados a todas as distâncias e mísseis de curto alcance. Através de aberturas na muralha, pequenas em tamanho mas muitas umas a seguir às outras, colocou mecanismos de curto alcance chamados escorpiões que podiam ser experimentados em objectos perto sem serem vistos pelo inimigo

Arquimedes demonstra aqui a sua prespicácia. Os mecanismos que havia construido seviam, não só para alcançar alvos a longas distâncias, mas, também, para combater o inimigo quando este se encontra a curtas distâncias (ao contrário do que os Romanos pensavam).

          Quando, assim, os Romanos se aproximaram das muralhas, pensando passar despercebidos, mais uma vez foram confrontados pelo impacto de muitos mísseis; pedras caíram sobre eles quase perpendicularmente, a muralha disparou setas sobre eles de todos os pontos, e eles retiraram para a retaguarda. Aqui, outra vez, quando eles estavam parados a alguma distância dali, voaram mísseis para diante e apanharam-nos enquanto retiravam causando-lhes muita destruição. Muito dos navios foram desfeitos de tal modo que não puderam retaliar contra o inimigo. Como Arquimedes tinha feito a maior parte dos seu mecanismos dentro da muralha, os Romanos pareciam estar a lutar contra os deuses, uma vez que caíam sobre eles inúmeros males vindos de uma origem oculta. 

 

 

 

 

 

 

Os mecanismos de Arquimedes eram de tal maneira poderosos que davam aos Siracusanos uma força quase divina.

          Apesar disso Marcellus escapou e, repreendendo os artífices e artesãos, disse: “Não devemos parar de lutar contra esta geometria Briareus, que usa os nossos navios como copos para tirar água do mar, que derrotou a nossa sambuca e a conduziu na desgraça, e que ultrapassou a façanha dos monstros das cem mãos da fábula ao lançar tantos mísseis contra nós de repente? Na realidade os Siracusanos eram apenas um corpo para o instrumento de Arquimedes, e ele o único espírito movendo e rodando tudo: todas as outras armas permaneceram sem ocupação, e a cidade em seguida usou apenas as suas, tanto de ataque como de defesa. No fim, os Romanos ficaram tão cheios de medo que, se vissem um pequeno pedaço de corda ou de madeira projectado da muralha, gritavam, “Aí está, Arquimedes está a lançar algum mecanismo sobre nós”, e fugiam; vendo isto Marcelo abandonou todo o combate e ataque e para o futuro permaneceu afastado.  

Marcelo conseguiu escapar afirmando que não conseguiria vencer os Siracusanos e a sua geometria.

Note-se que, para Plutarco, não foram os Siracusanos que derrotaram Marcelo e as suas tropas, mas sim o génio geométrico de Arquimedes.


Este frase é semelhante a outra de Plutarco: "O corpo é o instrumento da alma e a alma o instrumento de Deus" . No caso do texto, Arquimedes é a alma do Siracusanos e será, portanto, um instrumento de Deus.

          Apesar de Arquimedes possuir um tão soberbo génio, um tão profundo espírito, e uma tal abundância de pesquisa científica e, embora tenha adquirido através das suas investigações um nome e reputação de uma inteligência mais divina que humana, ele não se dignou a deixar um único texto sobre este assunto. Contrariamente aos mecanismos e a todas as habilidades utilitárias ignóbeis e vulgares, Arquimedes deu a sua devoção zelosa apenas aos objectos cuja elegância e subtileza eram livres das necessidades da vida; esses objectos, dizia ele, não podem ser comparados com nenhum outro; esses assuntos estão ao nível da demonstração, esses sim possuindo força e beleza, outros exactidão e transcendente poder. Em geometria, as mais difíceis e pesadas questões são tratadas em termos puros e simples. Alguns atribuem isto a dons naturais do homem, outros pensam que isto é o resultado de feito sem esforço e com facilidade. Se bem que por seu próprio esforço ninguém possa descobrir a demonstração, contudo, assim que a aprende, fica com os créditos como se a tivesse descoberto: tão fácil e rápido é o caminho que leva à conclusão. Por este motivo não vale a pena desacreditar das histórias contadas sobre Arquimedes que, continuamente enfeitiçado por uma sereia familiar que com ele vivia, se esqueceu de comer e de tomar conta do seu corpo. Quando era arrastado por uma grande força, como frequentemente acontecia, para o local de banhos e massagens, Arquimedes desenhava figuras geométricas nas lareiras e rectas com o dedo no óleo com o qual o seu corpo se estava a untar, ele estava dominado por grande prazer e inspirado pelas Musas. E embora tenha feito muitas descobertas elegantes, diz-se que implorou aos seus amigos e parentes que colocassem na sua sepultura depois da sua morte um cilindro incluindo uma esfera, com uma inscrição dando a proporção pela qual o sólido que inclui (o cilindro) excede o incluído (a esfera).

Mais uma vez, é referido o facto de Arquimedes não dar grande importância aos mecanismos que construía e ter dedicado o seu espírito e a sua sabedoria à investigação da geometria pura.

Fica bem claro, nesta parte do texto, que Plutarco era um platonista e que considerava que ser mais digno estudar geometria pura que aplicá-la a fins vulgares.

Podemos também ver o fascínio de Plutarco pela demonstração (devido à sua exactidão e poder). A geometria é mais uma vez valorizada por tratar as questões em termos puros e simples.

 

São aqui relatados algunsd episódios da vida de Arquimendes: constantemente enfeitiçado por uma sereia que seria a geometria, Arquimedes esquecia-se da sua higiéne pessoal e até de comer.

Mesmo quando arrastado para o local de banhos, continuava a desenhar figuras geométrias.

Arquimedes terá pedido que, sobre a sua supultura, colocassem simplesmente um cilindro incluindo uma esfera e uma inscrição dobre a proporção dos seus volumes (Arquimedes provou que o volume da esfera é exatamente dois terços do volume do cilindro).

          Assim era Arquimedes, que se revela a si próprio, e que a cidade também revela, invencível. Enquanto o cerco continuava, Marcelo tomou Megara, uma das primeiras cidades gregas fundadas em Sicília, e tomou também o acampamento de Hipócrates em Acilae, matou acima de oito mil homens, tendo-os atacado enquanto estavam ocupados na construção das suas fortalezas. Invadiu grande parte de Sicília; conquistou muitas cidades aos Cartagineses e derrotou tudo o que se atreveu a defrontá-lo. Enquanto o cerco continuava, Damippus, um Lacedemónio, lançado ao mar num navio de Siracusa, foi vencido. Quando os Siracusanos mais desejavam redimir este homem, e existiam muitas reuniões e acordos  sobre o assunto entre eles e Marcelo, ele teve oportunidade de observar uma torre dentro da qual podia ser secretamente introduzido o corpo de um homem, como a fortaleza perto disto não foi difícil de dominar, e aí descuidadamente guardada. Vindo frequentemente do outro lado, e mantendo conferências animadas sobre a libertação de Damippus, Marcelo tinha calculado bastante bem a altura da torre, tendo escadas preparadas. Os Siracusanos celebraram uma festa a Diana; esta conjectura, quando eles estavam a desistir inteiramente da vitória e divertir-se, Marcelo desprendeu-se e, antes que os cidadãos percebessem, não só se possuiu para fora da torre, mas, antes do nascer do dia, encheu a muralha em redor com soldados e tomou o seu caminho para Hexapylum. Os Siracusanos começaram então a mover-se, e para dar sinal de alarme do tumulto, ele ordenou que as trombetas soassem por todo lado, e deste modo assustando-os para a luta, como se todas as partes da cidade estivessem já ganhas, se bem que a mais fortificada, e mais leal, e mais amplo quadrante permanecesse por vencer. É chamado Acradina, e estava separada da cidade por uma muralha, uma parte da qual eles chamavam Neapolis, a outra Tycha. Sabendo ele próprio disto, Marcelo, por volta do nascer do dia, entrou pelo meio de Hexapylum, todos  os seus oficiais o congratularam. Mas olhando dos locais mais altos para a bonita e vasta cidade em baixo, diz-se que chorou muito, lamentando a  calamidade que estava suspensa sobre ela, quando imaginou quão sombria e desagradável estaria a face da cidade em poucas horas, quando pilhada e saqueada pelos soldados. Por entre os oficiais do seu exército não existia um que ousasse recusar o produto da pilhagem da cidade às exigências dos soldados; ou melhor, muitos estavam iminentes que deveria ser incendiada e reduzida ao nível do solo: mas a isto Marcelo não deu ouvidos. Todavia outorgou, mas com grande repugnância e relutância, que o dinheiro e escravos deveriam ser pilhados; dando ordens, ao mesmo tempo, que ninguém deveria ultrajar uma pessoa livre, não matar, maltratar, ou fazer escravo qualquer Siracusano. Não obstante ele ter usado esta moderação, continuava a considerar que a condição da cidade era deplorável e, até entre as congratulações e regozijo, mostrou os seus fortes sentimentos de simpatia e comiseração vendo todas as riquezas acumuladas durante uma longa felicidade, agora dissipadas numa hora. Pelo que é relatado, não foram menos pilhados e saqueados ali, que mais tarde em Cartago. Não muito depois, obtiveram também o produto da pilhagem de outras partes da cidade, que foram tomadas por deslealdade;  deixando apenas ileso o dinheiro do rei que foi conduzido para o erário público. Mas o que causou especial pesar a Marcelo foi a morte de Arquimedes. Sucedeu que Arquimedes estava sozinho, examinando cuidadosamente um gráfico; e tendo fixos não só a sua mente como os seus olhos no objecto da sua pesquisa, não se apercebeu nem da invasão dos Romanos nem da tomada da cidade. Subitamente um soldado aproximou-se dele e ordenou-lhe que o seguisse até Marcelos, mas Arquimedes não iria enquanto não acabasse o problema e o resolvesse pela demonstração. Em consequência disso o soldado ficou furioso, puxou a sua espada e liquidou-o. Outros, contudo, dizem que o Romano se aproximou dele com a espada levantada tencionando matá-lo de vez e que Arquimedes, ao vê-lo, suplicou e rogou-lhe que esperasse um pouco para que ele pudesse não deixar a questão incompleta e apenas parcialmente investigada; mas o soldado não percebeu e matou-o. Existe ainda uma terceira história, que enquanto ele estava a carregar alguns dos seus  instrumentos matemáticos, tal como quadrantes, esferas e esquadros ao tamanho aparente do sol, alguns soldados o encontraram e, com a impressão que carregava um tesouro na caixa, o mataram. Existe, contudo, consenso que Marcelo ficou angustiado, se afastou do assassino com de uma pessoa profana, e se dirigiu aos parentes de Arquimedes para os honrar. 

No plano da guerra, Marcelo somava conquistas, como se pode ver no mapa acima, após a II Guerra Púnica os Romanos já tinham conquistado toda a Sicília, incluindo Siracusa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No mapa pode verificar que Siracusa, como é referido no texto, estava dividida em três parte, Acradina, Neapolis e Tycha.

(Clique para ver o mapa num tamanho maior)

Segundo Plutarco, Marcelo chorou ao imaginar como ficaria Siracusa depois de saqueada, mas a tristeza de Marcelo não bastou para impedir que o pior acontece-se.

No entanto, Marcelo ordenou que nenhum dos seus soldados maltrata-se os homens livres de Siracusa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Durante este combate Arquimedes foi morto. 

Existem
várias versões sobre a morte de Arquimedes mas, em todas elas, é descrito o pesar sentido por Marcelo quando soube do sucedido.