O texto que aqui se traduz e comenta é do filósofo bizantino Tzetzes (1110-1180) e descreve um episódio em que Arquimedes, de maneira genial, consegue incendiar alguns navios da frota de Marcelo.  

 

Tzetzes, Livro de Histórias

(Traduzido a partir de uma versão em língua inglesa de J. R. Newman (1988), in The World of Mathematics, Washington: Tempus Books, vol I, pp.180-181)


Arquimedes era um sábio, um famoso construtor de mecanismos, era um Siracusano de sangue que trabalhou em geometria até longa idade, sobrevivendo setenta e cinco anos. Tinha ao seu serviço muita capacidade mecânica e, com a sua invenção da tripla roldana de retorno, usando apenas a mão esquerda, arrastou um navio de cinquenta mil medimni. Outrora, quando Marcelo, o general Romano, estava a atacar Siracusa por terra e mar, Arquimedes levantou alguns navios mercantes por meio dos seus mecanismos, erguendo-os contra a muralha de Siracusa, e mandando-os ao monte contra o fundo, tripulação e tudo. Quando Marcellus afastou um pouco os seus navios, o velho deu a todos os Siracusanos o poder para erguer pedras suficientemente grandes para carregar uma carroça grande e arremessá-las, uma atrás da outra, para afundar os navios. Quando Marcellus afastou os navios para uma certa distância, o velho construiu uma espécie de espelho hexagonal e, num intervalo proporcional ao lado do espelho, montou pequenos espelhos semelhantes com quatros arestas, movidos por uma corrente e por uma forma de leme, e tornou-o o centro dos raios de sol – o seu núcleo ao meio-dia, quer no verão quer em pleno inverno. Depois, quando os raios foram reflectidos no espelho, um terrível fogo foi provocada nos navios, e à distância a que os navios estavam, transformou-os em chamas. Desta maneira o velho triunfou sobre Marcellus com as suas armas. No seu dialecto Dórico, e na sua variante Siracusansa, declarou: “Se tivesse um ponto de apoio, moveria toda a Terra com um charistion.

Tzetzes reláta alguns episódios do cerco a Siracusa nos quais Arquimedes, através do seus mecanismos, consegue derrotar Marcelo. 

Para além de conseguir arremeçar pedras de grande peso, Arquimedes conseguiu, através de espelhos, incendiar navios que se encontravam a grande distância.

Mais uma vez nos deparamos com a genialidade de Arquimedes. Como terá ele descoberto como utilizar os raios do sol para incendiar os navios inimigos? E como saber qual forma ideal dos espelhos?

 

 

 

No fim do texto encontramos uma das frases mais emblemáticas de Arquimedes que demonstra como estava convencido do poder das suas descobertas. Frase que deve ter tido como consequência que alguns o achassem louco, uma vez que é impensável que um simple humano consiga mover algo tão imenso como o mundo.