Hoje somos professores, ontem fomos alunos. Curiosos, olhávamos para o professor que entrava a porta da sala de aula no primeiro dia de aulas e tentávamos adivinhar o que nos esperava. Amados ou detestados, muitos deixaram em nós as suas
marcas. De uns, guardamos uma feliz recordação; de outros, apenas as divertidas alcunhas com que os
apelidávamos.
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"Pelos tempos fora, fui guardando dos meus professores, umas
frases, uns relances, umas atitudes que nunca mais esqueci. Alguns erros,
também: tenho pronunciado mal certas palavras inglesas porque um professor da
disciplina, aliás excelente, não atinava com elas. Recusei-me, durante
anos, a usar a expressão "em ordem a" porque um mestre de Português, fortemente
repugnado, a rejeitou como anglicismo espúrio. Depois encontrei-a, repetidamente em Francisco Manuel de
Melo"
Mário de Carvalho,
Professores |
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Entretanto, tudo parece ter mudado. Porém, alguns padrões mantêm-se. Ontem como hoje, há o professor azedo, ríspido, cruel, agressivo ou com alguma outra característica que não era (e não é) do nosso agrado. Não o poupávamos na provocação, no risinho, na alcunha, na balbúrdia. É bom que não os esqueçamos, agora que somos nós a ocupar o estrado, ou melhor, o pouco que dele resta nas nossas escolas. Até porque quase tudo depende do professor.
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"Os resultados serão diferentes se se tratar de um professor exigente e genuinamente interessado pelos seus alunos ou de um professor descuidado do seu
trabalho, desatento, detestado, troçado ou simplesmente desprezado O método mais correcto não salvará um professor que não saiba obter a amizade e o respeito dos seus
alunos. O método mais arcaico fará maravilhas nas mãos de um professor
estimado, que ensina de forma rica, entusiástica e apaixonada aquilo que
ama, que se interessa verdadeiramente pelo saber que ministra, pelos alunos que lhe foram
confiados, pelo modo como vivem e sentem e pensam o mundo que os rodeia ... Todos os
alunos, mercê de uma intuição muito particular, sabem sempre reconhecer um professor que consoante os
casos, castigam pelo desprezo e pela troça mais cruel ou permeiam com uma estima respeitosa e
discreta."
Olga Pombo, A Escola, a Recta e o
Círculo |
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Mas, ontem como hoje, há também o professor dedicado, afável, amigo dos seus alunos. Há professores que granjeiam respeito pela nobreza e gravidade da sua postura. Há aqueles que estão sobretudo interessados em promover a compreensão e
aqueles que têm como objectivo fundamental disciplinar as vontades. Há professores que amam a sua profissão, outros para quem essa tarefa constitui apenas um recurso de sobrevivência, um enorme sacrifício diário.
Enfim, há diversos
tipos de professores.
Procuramos percorrer algumas páginas dessa tipologia associando, sempre que
possível, uma imagem a cada um dos tipos identificados e o testemunho de
um ou outro autor literário sobre professores que marcaram as suas (e as nossas) vidas e
imaginação.
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