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Nasceu: 18 de Maio de 1872 em Ravenscroft, Trelleck, Monmouthshire, Wales
Morreu: 2 de Fevereiro de 1970 em Penrhyndeudraeth, Merioneth, Wales

 

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     A vida de Bertrand Russell abrange um período enorme, quase um século, estendendo-se da  Inglaterra Vitoriana à era Espacial. Como o próprio Bertrand Russell costumava dizer, ele é uma espécie de relíquia vitoriana... Mas, não é nossa intenção considerá-lo como tal nesta página.
    O fascínio que Russell exerceu sobre o público dependeu de numerosos factores. Para além da sua longevidade, há muitas outras facetas que o tornam único. Grande matemático e filósofo, apóstolo da paz e discutida figura política, Bertrand Russel alcançou um enorme prestígio mundial. Era o nonagenário que cativava os mais novos e inspirava os mais velhos; o aristocrata que desprezava a Câmara dos Lordes e se arriscava a ser preso;  o anarquista por temperamento que desafiava o poder constituído; o ateu que traçou armas contra o dogma religioso e a moral convencional; o matemático e lógico cujas equações destronaram Euclides; o filósofo que procurou tornar a filosofia acessível aos leigos; finalmente, o galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, cuja elegância de estilo, agudeza de ironia e destreza mental remontam a uma época em que se cultivava a arte de conversar e de escrever cartas.        

Biografia

Curiosidades da vida pessoal

Cronologia do trabalho principal

Contribuições Matemáticas

Correspondência

Bibliografia
Quem somos nós

 


Biografia

 

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Bertrand Russell é considerado um pensador de categoria excepcional, especialmente pelas suas magnificas e originais contribuições no domínio da Filosofia da Matemática. Ao mesmo tempo, a variedade dos seus outros estudos, da história à política, da economia à educação, da moral aos problemas sociais, espalhados numa vasta obra, tornam-no uma das figuras contemporâneas mais prestigiosas e discutidas. 

 

Bertrand Russell nasceu a 18 de Maio de 1872, em Ravenscroft, Monmouthshire, Inglaterra.Foi o mais novo dos três filhos do Visconde de Amberley, filho de Lorde John Russell, e de Kate Stanley, filha do Barão Stanley de Alderley.    

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Russell em 1876, ano em que ficou órfão com menos de quatro anos de idade.


A sua família tornou-se famosa na história inglêsa desde o início do séc. XVI. Com efeito, seu avô, Lorde John Russell, foi o arquitecto da Grande Reforma Bill de 1832 e duas vezes Primeiro Ministro. O seu pai e a sua mãe foram duas figuras de craveira intelectual muito elevada, ambos discípulos do célebre filósofo Stuart Mill.
A sua mãe e irmã morreram quando tinha apenas dois anos, tendo-se seguido o pai com um intervalo de vinte meses. Dispôs este em testamento que a educação e a tutoria dos seus filhos fosse confiada a dois livres pensadores seus amigos mas, tendo o tribunal recusado aceitar esta disposição testamentária, os dois irmãos foram morar para Richmond Park, onde a condessa Russell, sua avó, lhes fez ministrar uma educação cristã, por intermédio de professoras alemãs e suíças. O grande desejo de sua avó era que Bertrand seguisse a tradição da família tornando-se, tal como o avô, Primeiro Ministro.  

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A sua existência no novo lar era confortável mas muito fechada. Russell tornou-se um rapazinho tímido e solitário, dominado por uma educação espartana (embora afectuosa) imposta pela sua puritana avó. A sua reserva foi sem dúvida acentuada pelo mistério tecido à volta da vida dos seus pais e da sua morte prematura. Esse mistério iria Russell desvendá-lo anos mais tarde, ao consultar os seus documentos pessoais. Russell procurava consolo para a sua solidão escrevendo e, no que escrevia, discutia  atitudes e convicções firmadas. Já nos princípios da sua adolescência começou a mostrar-se céptico acerca dos dogmas religiosos, convencido de que a felicidade terrena era o fim essencial da vida.


    «Os primeiros grandes acontecimentos da minha vida, com 11 anos apenas - escreveria Russell mais tarde na sua autobiografia, The Bertrand Russell's Philosophy - foram os princípios de Euclides». Com efeito, bem cedo revelara uma aptidão excepcional para os estudos matemáticos. Mais tarde confessa-se desviado para a filosofia pelo seu ardente desejo de aprofundar as verdades matemáticas. Aos dezoito anos abandona a fé cristã em que havia sido criado.

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    Em 1890 começa a frequentar o Trinity College onde se concentra na Matemática e na Filosofia. Aí, em companhia de amigos brilhantes que partilhavam a sua intensa curiosidade intelectual, confirmou-se o seu génio. Transformou-se numa pessoa com um extraordinário poder de expressão e muito expansiva. Após três anos doutora-se com a tese  An Essay on the Foundations of Geometry.
O trabalho de Russell sobre os fundamentos da Matemática impulsionou a filosofia inglesa numa outra direcção.  

 

    Decide então abandonar o Trinity College e, durante alguns meses, serve como adido na Embaixada Britânica em Paris. Deixou o lugar em Dezembro de 1894 e casou com Alys Whitall Pearsall Smith. O casal segue para Berlim onde Russell passa a maior parte do ano seguinte a estudar Economia e a recolher materiais para o seu primeiro livro German Social Democracy. Em 1896 visita os Estados Unidos durante três meses. Quatro anos depois publica uma segunda obra  A Critical Exposition of the Philosophy of Leibniz.

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    Em 1900, "o mais importante ano na minha vida intelectual", Russell foi com Whitehead ao Congresso Internacional de Filosofia em Paris, onde ouviu Peano a apresentar as suas descobertas na lógica simbólica. Esta experiência impele-o a fazer prolongadas investigações que tiveram como fruto The Principles of Mathematics (1903).

    Depois, em colaboração com Alfredo North Whitehead, dedica-se a desenvolver esse trabalho que publica em três volumes entre, 1910 e 1913, com o título de Principia Mathematica

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O trabalho   realizado é verdadeiramente extraordinário constituindo um instrumento de grande fecundidade para a solução de numerosos problemas de filosofia da ciência. Esse ttrabalho contribuiu decisivamente para chamar a atenção mundial sobre os seus autores.

    Depois de um curto período de actividade política, Russell é convidado pela Universidade Americana de Harvard, onde pronuncia uma série de lições e publica um novo trabalho sobre Our Knowledge of the External World as a Field for Scientific Method in Philosophy (1914).

    O desencadeamento da Primeira Grande Guerra Mundial decide-o a iniciar um grande movimento pacifista, de acordo com as suas convicções. É por essa altura que escreve Principles of Social Reconstruction (1916), Justice in War-Time (1916), Political Ideals (1916) e Roads to Freedom: Socialism, Anarchism and Syndicalism (1918).

Russell mostra-se sempre um paladino dos perseguidos e um crente na supremacia do indivíduo. Em 1916, quando seis indivíduos se recusaram a combater por motivos de consciência e foram presos por andarem a distribuir panfletos pacifistas, Russell declarou ser o autor dos panfletos, incitando as autoridades a voltarem-se contra ele. O resultado foi um julgamento que ficou célebre pela defesa que Russell apresentou. Foi multado em cem libras e depois sumariamente demitido do cargo que desempenhava no Trinity College.
    A guerra despertou uma profunda consciência social no pensamento de Russell. Não só aumentou a sua compaixão pelo sofrimento alheio como também as privações próprias, incluindo alguns meses de cadeia, lhe deram a conhecer - em primeira mão - os poderes repressivos do estado contra os quais os indivíduos estão indefesos.

    Em 1918 esteve preso vários meses porque escreveu um panfleto acusando o Exército Americano de intimidar as suas tropas impedindo-as de irem a casa. Durante os quatro meses que passou na prisão escreveu  An Introduction to Mathematical Philosophy, publicada pela primeira vez em 1919. O livro foi um fardo pesado para o Governador da Prisão que, apesar de incapaz de o compreender, foi obrigado a ler o manuscrito, pois podia conter possíveis tendências revoltosas.

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    Depois da guerra, em 1920, Russell foi passar alguns meses à União Soviética com uma delegação Trabalhista. Falou com Lénine, Trotsky e Gorky e procurou conhecer a estrutura do novo regime social ali instalado. A sua reacção em presença do caos que reinava nesses primeiros tempos no novo estado soviético era ambivalente: considerava a transformação como bem-vinda mas sentia-se perturbado pela miséria e sofrimento que observou. Tendo previamente rejeitado o capitalismo, era levado a acreditar que não havia, na altura, nenhuma alternativa adequada. No regresso, e apesar da sua simpatia pelas finalidades mais ousadas do socialismo, confessou-se desiludido com o que viu e proclamou-o francamente na obra que a seguir publicou: The Practice and the Theory of Bolshevism (1920).

    A seguir visita o Extremo Oriente onde foi convidado a fazer uma série de conferências na Universidade de Pequim. Passa então nove meses na China, entre 1920 e 1921, tendo estado de cama a maior parte desse tempo, em convalescença de doenças graves que o atacaram em série. A sua admiração pela civilização chinesa encontra-se patente na obra The Problem of China (1922). Enquanto permanece naquele país divorcia-se da sua primeira mulher e, de regresso a Inglaterra, casa com Dora Winifred Black.
Russell, que já tinha a sua reputação restabelecida devido às suas contribuições para os fundamentos da Matemática, volta a ensinar e a dar conferências em Inglaterra e nos Estados Unidos.
Os anos seguintes passa-os dividindo o seu tempo entre o jornalismo e a divulgação científica. Publica mais de vinte e quatro livros e mais de duzentos artigos em jornais entre os quais The ABC of Atoms (1923) e o The ABC of Relativity (1925).

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    O nascimento de dois filhos leva-o a interessar-se pelos problemas da educação. Materializa esse interesse com a abertura de uma escola experimental para a educação de crianças (1927) e com a publicação das obras On Education Especially in Early Childhood (1926) e a Education and the Social Order (1932).

 

    O advento do Nacional-Socialismo na Alemanha provocou uma forte reacção por parte de Bertrand Russell que verberou o acontecimento com a maior severidade em muitos dos seus escritos. Profetizou uma Segunda Guerra Mundial mas em 1936 advogou uma aproximação amigável com a Alemanha. Estava convencido de que tudo era preferível à guerra e que a Alemanha, se não encontrasse resistência, haveria de reconhecer a loucura da política militarista que estava a seguir. Após o primeiro ano de guerra mudou de opinião, passando a afirmar que a guerra por vezes é necessária para evitar males maiores. A sua repugnância pelo totalitarismo nazi é tão grande que, logo a seguir à invasão da Polónia, anuncia publicamente a sua adesão à luta contra o ditador alemão e à causa das democracias. Os anos de guerra passa-os alternadamente em Inglaterra e nos Estados Unidos, publicando numerosos ensaios sobre os assuntos da sua especialidade.

   Ocupou várias cátedras em universidades americanas. Em 1940 foi-lhe oferecido um lugar de professor no New York City College mas, após uma controvérsia que se tornou famosa, a sua nomeação para o cargo foi revogada sob pretexto da sua incompatibilidade moral com os princípios da educação americana. Depois disso, Russell foi boicotado em todo o território dos EUA, ficando totalmente privado de meios de subsistência. Foi mais tarde convidado a ensinar na Fundação Barnes durante cinco anos. Aí ensinou História da Filosofia. A nomeação para tal cargo provocou, porém, nova polémica e foi despedido ao fim de dois anos. Seguiu-se um julgamento, na sequência de ter o Presidente da Fundação, Dr. Barnes, acusado em tribunal Bertrand Russell de dar lições superficiais. Russell foi absolvido desta acusação.

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    Regressou a Inglaterra em 1944 e foi nomeado para leccionar cinco anos no Trinity College, de Cambridge, ao mesmo tempo que foi eleito Membro Vitalício do mesmo colégio universitário.

    Depois do lançamento das bombas atómicas sobre as cidades japonesas fez um dos seus raros discursos na Câmara dos Lordes, predizendo o aparecimento da bomba de hidrogénio e prevenindo a Humanidade contra o perigo que ela representava. Quando a guerra terminou, intensificou a  sua acção para a paz no mundo, convencido que esta só se poderia alcançar pelo desarmamento nuclear geral.

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    A 10 de Novembro de 1950 foi anunciado que Bertrand Russell tinha ganho o Prémio Nobel da Literatura respeitante a esse ano, «em reconhecimento de numerosos trabalhos da sua autoria em que se defendem os ideais mais elevados». Quando um mês mais tarde recebe, em Estocolmo, a quantia de trinta mil dólares, o secretário da Academia Sueca referindo-se ao laureado, proclama-o um dos mais brilhantes protagonistas dos ideais humanos e campeão da liberdade de expressão do mundo ocidental.

 

Com a sua crescente dedicação à causa do pacifismo o seu nome tornou-se sinónimo da campanha pela paz. A sua casa foi literalmente inundada por cartas vindas dos quatro cantos do mundo. A resposta a essas cartas sobrecarregou ainda mais o seu programa diário, já muito pesado. Em 1954 as experiências com a bomba de hidrogénio realizadas no atol de Bikini acentuaram a urgência da sua tarefa.

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O programa que manteve na BBC, intitulado «Man's Peril», abalou consideravelmente a apatia do público, ao fazê-lo aperceber-se de todas as consequências de uma guerra atómica. Russelll preparou um manifesto cuja primeira assinatura de adesão foi a de Einstein, pouco antes do grande físico morrer.

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Os signatários desse documento formaram o núcleo da I Conferência Pugwash realizada na Nova Escócia, em 1957. Nela participaram cientistas tanto de Leste como do Ocidente. Russell foi eleito presidente desta conferência e das que lhe seguiram. No entanto, não se contentou com o facto do Movimento Pugwash poder ter influência decisiva no desarmamento e procurou outros métodos com afinco. Escreveu a governantes de todo o mundo sobre os problemas de maior acuidade na altura.

    Não contente com a reacção obtida até aí, enveredou com inesgotável energia pelo campo oferecido pela possibilidade de evitar a guerra por meio de manifestações em massa. O ano de 1958 viu nascer a campanha pelo Desarmamento Nuclear, tendo Russell como presidente.

    Seguiram-se quatro anos de intensa actividade com Russell, já firmemente instalado como apóstolo da paz, a chefiar as primeiras marchas, muitíssimo concorridas, de protesto, por intermédio da Comissão dos 100. Eram manifestações generalizadas de desobediência às autoridades civis numa tentativa para sustar eficazmente a crescente ameaça da guerra atómica.
Em 1961, com oitenta e nove anos de idade, chefiou uma numerosa manifestação «sentada» em frente do Ministério da Defesa, na Whitehall. Bertrand Russell e a sua mulher foram condenados a dois meses de prisão pelas actividades desenvolvidas nessas e noutras manifestações de protesto (a pena foi reduzida a uma semana, por motivos de saúde). 

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    Em 1963 as suas múltiplas tarefas atingiram tais proporções que se organizou a Fundação Bertrand Russell para a Paz destinada a aliviar um pouco o trabalho pessoal de Russell e a afirmar o apoio que recebia dos mais variados sectores. A fundação ocupava-se especialmente de problemas internacionais, em particular das aspirações do povo em nações do chamado 'terceiro mundo'. Começa então a dedicar grande parte da sua atenção à Guerra do Vietname, censurando asperamente a intervenção dos americanos.

    Retirou-se do Partido Trabalhista Inglês em 1965, por não concordar com o apoio dado pelo governo do seu país à política seguida pelos americanos em vários campos. Um ano mais tarde discursou na reunião preparatória do Tribunal Internacional dos Crimes de Guerra, instituição fundada para investigar acções criminosas cometidas pelos americanos no Vietname. Russell foi eleito presidente do Tribunal, que mandou publicar os factos averiguados em 1967, ano em que Russell publicou o seu livro War Crimes in Vietnam.

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No seu octogésimo aniversário, Russell ofereceu um conselho típico de longevidade. Recomendou 'um hábito hilariante de controvérsias olímpicas', que nos mantivesse ocupados e que evitássemos todos os tipos de excessos - excepto fumar. ("Até à idade de quarenta e dois anos fui um abstémio. Mas, nos últimos sessenta anos tenho fumado incessantemente, parando somente para comer e dormir")

   

Entre 1967 e 1969 apareceram os três volumes da sua Autobiografia, que recebeu o aplauso geral.

Russell morreu em sua casa, em Wales, a 2 de Fevereiro de 1970.

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt