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John Dewey A organização da "Escola Moderna"
The School and Society A sociedade e as Instituições Escolares
Bibliografia

O Desperdício na "Escola Tradicional"

Na "Escola Tradicional" constituída pelo conjunto de instituições escolares que perduravam nos Estados Unidos da América nos finais do século XIX "o centro e a base das escolas são os professores e não as crianças" ou seja existia uma completa dependência dos alunos em relação aos professores. Exemplo disso era a organização das salas de aula, preparadas para impor uma ordem em que os alunos ouvem o professor, escrevem e fazem apontamentos. Não havia lugar para cada aluno actuar, agir ou reagir de forma individual. Não existiam actividades práticas que permitissem aos alunos inquirir, criar e construir. A própria ordenação das mesas e das cadeiras favorecia este facto, ao não permitirem a livre circulação dos alunos na sala.
Dewey declarou que "os alunos absorvem de forma passiva o "material" preparado por autoridades escolares (professores, concelhos, superintendentes, etc.)" devendo ser apresentada "o máximo de matéria no mínimo de tempo possível". Segundo Dewey a "Escola Tradicional" estimulava "a passividade de atitude, o tratamento mecânico das crianças como massas, a uniformidade de currículos e métodos" A passividade dos alunos também era fomentada pelo facto de na sala de aula o professor tratar o conjunto dos alunos como um todo indivisível. 
Dewey repudiava o sistema de avaliação escolar da "Escola Tradicional", que incentiva a competição entre alunos e referia Este sistema levava os alunos a considerarem que não deve existir apoio e cooperação entre colegas, porque tal poderia incentivar alguns alunos a não se empenharem no trabalho escolar. O autor considerava que a cooperação entre alunos, a livre troca de ideias, comentários e sugestões são fundamentais para o desenvolvimento das capacidades das crianças.
Dewey considera que, na "Escola Tradicional", o maior desperdício não é o financeiro ou o de meios, mas sim o da vida dos indivíduos, não enquanto crianças que frequentam a escola, mas também depois da sua "passagem" pela escola devido a uma "preparação inadequada e pervertida". Este desperdício resultado isolamento das diferentes instituições escolares: por um lado, do isolamento das várias instituições escolares entre si, e por outro, do isolamento das instituições escolares relativamente à sociedade, ou seja ao mundo exterior. 
Dewey refere que esta separação entre os diferentes componentes do sistema escolar está relacionada com o facto de cada um destes componentes terem uma origem, objectivos iniciais e um desenvolvimento próprios. Por exemplo o "jardim-escola" foi introduzido no século XVIII com o objectivo de apoiar "o desenvolvimento moral das crianças" enquanto que a primária (que actualmente corresponde ao primeiro ciclo de escolaridade) "resulta de um movimento iniciado no século XVI, em sequência da invenção da impressão de caracteres e também do desenvolvimento do comércio", os quais tornaram necessário a muitos elementos da sociedade o domínio da leitura e da escrita.
Os diferentes de cada componente da "Escola Tradicional" poderiam ter um ou mais dos seguintes objectivos: desenvolvimento moral, utilidade prática, cultura geral, disciplina e treino profissional. Dewey afirma que o desperdício inerente ao isolamento das várias partes da instituição escolar, resulta da desunião nos objectivos comuns de "educação" e da falta de coerência nos seus estudos e métodos. Dewey refere também que a falta de unidade e de sentido de sequência entre os diferentes graus de ensino faz com que, ao longo do seu "percurso escolar" os alunos abordem alguns temas mais que uma vez, enquanto outros temas não serão bem desenvolvidos ou não sejam referidos de todo. Mais ainda, a forma como alguns temas são desenvolvidos leva a que os alunos descubram que algumas das "coisas" que aprenderam anteriormente estão erradas ou mal formuladas.
Dewey considera que, para quebrar o isolamento dos diferentes componentes escolares, estes têm de estar referenciados e em contacto com o resto da sociedade e da vida social, sendo esta a única forma de unir os diferentes componentes do sistema escolar entre si. 
Dewey considera que a instituição escolar se encontra separada e isolada da sociedade, na medida em que, por um lado, não permite que as crianças desenvolvam as suas capacidades de raciocínio e de resolução de problemas, e por outro, funciona como um local onde são ministradas lições com referências meramente abstractas e remotas a uma possível ocupação profissional futura. Dewey afirma que "se as crianças tivessem raciocínios puramente abstractos poderiam directamente utiliza-los na escola". Mas o raciocínio abstracto é algo que o indivíduo vai desenvolvendo ao longo do seu crescimento e "as crianças estão apenas interessadas em coisas concretas, e a menos que estas coisas concretas sejam introduzidas na escola a criança não desenvolve os seus raciocínios".
O isolamento do sistema escolar em relação à sociedade faz com que as crianças não encontrarem forma de aplicar na sua vivência do dia a dia o que aprendem na escola, nem de aplicarem na sua aprendizagem escolar a sua vivência não escolar. O superintendente escolar de uma cidade banhada pelo rio Mississipi relatou a Dewey que muitas crianças ficavam espantadas ao saberem que o rio da sua cidade era o mesmo rio estudado e referido nas salas de aula.
Existe, segundo Dewey, uma "separação teórico vs. prático, grandemente motivada por questões de ordem social, [com] consequências muito prejudiciais para o desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades em que estes se integram". O isolamento da "Escola Tradicional" em relação ao mundo exterior leva a que os elementos das classes menos privilegiadas considerem as instituições escolares única e exclusivamente como um meio de obter as ferramentas básicas (ler, escreves, cálculos matemáticos simples) que lhes permitirá desenvolver os seus interesses na obtenção de uma actividade profissional. O autor refere que uma das consequências desta separação é o abandono precoce dos alunos do sistema escolar.

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt